Dez poemas de Fábio Pinheiro
Fábio Pinheiro nasceu em 1982, em São Paulo, SP. É professor e poeta. Graduado em Letras. Filho de uma dona de casa e um azulejista. Durante a juventude atuou em movimentos populares de cultura e educação em periferias da zona leste de São Paulo. Participando de diversos saraus. Começou a escrever poesia por volta dos 25 anos. É autor de Ócio, sonho e poesia (2022) e Poesia disque-denúncia (Editora Patuá, 2023).
Poesia disque-denúncia pode ser adquirido com o autor pelo seu Instagram (@fabiopinheiro1982) ou pelo site da Editora Pátua.
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RAÍZES
não quero ter o corpo negro
e a escrita
o desejo
o amor
a alma
o sonho
brancos
quero as raízes das palavras —
negras
quero o escurecimento do desejo
o axé
as vozes mortas dos meus,
negras e indígenas, vivas
quero o pensamento
e a lógica negras —
cansei de ser branco
*
aos quarenta anos
meu pai
também ganhou
o seu primeiro fio
de cabelo branco
aos setenta
os fios pretos
ainda resistiam
entre os brancos
como um
corpo negro
resiste morrer
mesmo depois
de todas
as violências
*
uns dias caos
noutros
cais
*
REVIDE
meu tempo é morrer de morte branca matada
mas engana-se o branco que acha que esse preto morre
mata-se o preto como se fosse uma coisa natural
morte natural de preto
quando olham o preto tá vivo outra vez
mandando os brancos se foderem
*
na solidão de um corpo negro
ele
( ) dança
( ) escreve
( ) canta
( ) manda os brancos se foderem
( ) todas as alternativas
*
bate atabaque bate atabaque
bate atabaque bate atabaque
bate atabaque bate atabaque
atabaque
baque
baque
baque
baque
*
IMITANDO ROSA
qualquer poema já é um pouquinho de saúde
*
DUAS SOLIDÕES
quando não escrevo muitos poemas morrem
são duas solidões:
uma é a minha distante das palavras
a outra é a do poema —
morto sem qualquer palavra minha
*
ALQUIMIA
a dor corrói o peito
a lágrima encharca e seca em seu sal a pele
mas o poema
o poema não morre mais em mim
*
eis a questão:
fazer poesia fora de mim
— de que adianta?
Hermenegildo Ferreira da silva
TUa partida deixou-me tão triste,
Com um tristeza que parece sem fim.
E é nessa hora que me vem a lembrança,
De quando eu era criança…
E tu cuida as de mim.
Ao te ver nesse leito sem vida,
Com esse sono profundo indo ao encontro de Deus,
Que vejo se esvair como água meus sonhos ,
Hoje tão tristonhos como foram os teus.
E nessa tristeza e nessa saudade,
Eu sinto falta muito e muito de ti,
Quando acariciava teus. Cabelos grisalhos,
Com tantos afagos e tantos carinhos,
Que hoje somente Deus me acalma,
Quando a noite chorando…
Eu acordo sozinho.
Sou poeta, para mim poesia é arte, não pode ser misturada com revolta e mágoas.
Não gostei dos escritos de Fábio Pinheiro. Prega discórdia, seus pensamentos.
Cida
Quanto amargor nos versos desse poeta Fábio. Desnecessário.