Dois poemas de bianca vieira
bianca vieira é lésbica, estudante do curso de letras da universidade estadual do amazonas, (futura) professora, revisora, pesquisadora de corpos marginalizados na literatura, integrante do coletivo de pesquisa em artes da cena erva daninha, candomblecista, cineasta, dramaturga, quase atriz e, furiosamente, poeta. aos exatos vinte e um anos.
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Fartura
o sabor que as coisas têm
equivale mais que nosso português
[mal falado]
gosto de esconder meu imposto de renda
próximo aos temperos
igual você lavando roupas
dentro do banheiro
louvo o jeito que nossa casa se organiza
agradeço o chão que você pisa
e as encruzilhadas que te trouxeram até aqui
perto o suficiente
todas as comidas e pratos são sagrados
a cabeça é o guia
mas meu peito que contigo (dança)
conversa e agrado
minha comida a ti dedico.
*
respiro
um segredo do mundo editorial
entre páginas [nada formal] existe um eixo
para os olhos atuarem com o descanso
tal qual corpo no fim do carnaval
você em fantasia de como se diz
anjo?
desconheço seu cor de rosa,
mas odeias parnasianos
modernistas nunca ririam tão
chiques como tu.
e então o livro começa [abre]
desenho-te como folha de respiro
doce sutileza que me empresta
fôlego senão como respiro?
ar falta de propósito
invadindo os sete buracos da minha festa
cabeça girando ao ócio
corro ao teu encontro
sequer escondendo
ou ainda
imaginando
como funciona os pulmões dos teus poemas.