Dois poemas de Edson Bueno de Camargo
Com um vasto trabalho ainda inédito, o poeta Edson Bueno de Camargo, que completaria 60 anos no dia 24 de julho, está sempre entre os autores dos quais se aguarda ansiosamente um obra póstuma. Com a expectativa dos leitores e de escritores admiradores, um novo livro era questão de tempo. E também de importância fundamental, pois mantém viva a memória e o legado literária e humano de Edson. Por isso os responsáveis pela obra do autor e a Editora Patuá lançam A escansão da argila (para adquirir o exemplar clique aqui) neste mês de julho.
Edson Bueno de Camargo nasceu em Santo André-SP, em 24 de julho de 1962, e faleceu em sua residência, em Mauá, aos 28 de outubro de 2014, com 52 anos de idade.
Casado com a professora de arte e fotógrafa Cecília Camargo, pai do professor de arte, artista plástico e artesão Martín Sebastian Bedeschi de Camargo e avô de André Moreira Bueno de Camargo.
Foi operário da indústria, dentro de uma realidade suburbana. Muitos de seus primeiros poemas foram escritos no “chão da fábrica”. Terminou o ensino médio em uma escola do Estado no período noturno. Frequentador assíduo de oficinas literárias, formou-se em Pedagogia no ano de 2011 e em Artes Visuais no ano de 2014.
Escreveu desde muito jovem, mas acreditou que o compromisso e seriedade com a poesia veio tardiamente, a partir de uma oficina em sua cidade, a Oficina Aberta da Palavra. Posteriormente, frequentou cursos com o poeta Cláudio Willer, na Casa da Palavra, em Santo André.
Autor dos livros Geografia perfeita para insetos – Coleção Prato de Cerejas (e-galáxia, 2014), A fome insaciável dos olhos (Editora Patuá, 2013), Cabalísticos – Coleção Orpheu (Editora Multifoco, 2010), De lembranças & Fórmulas mágicas (Edições Tigre Azul/FAC Mauá, 2007), O mapa do abismo e outros poemas (Edições Tigre Azul/FAC Mauá, 2006), Poemas do século passado 1982-2000 (Edição do autor, 2002).
Foi publicado em algumas antologias poéticas, jornais e revistas literárias, em mídias digitais e impressas, como O Casulo (edição n. 8), Revista A Cigarra (edição n.º 41), As Cidades Cantam O Tamanduateí Que Passa (Prefeitura de Mauá, 2003), Livro da Tribo (Agenda Poética, 2004-2005, 2005-2006, 2012 – 2013), Coletânea Prêmio Off Flip de Literatura, Vinagre: Uma Antologia de Poetas Neobarracos (Edições V de Vândalo, 2013), Revista Confraria do Vento, Babel Poética, Zunai, Germina, Diversos Afins, Celuzlose, Portal Cronópios, Revista Acqua, Mallarmargens, entre outras.
Foi finalista do Mapa Cultural Paulista na categoria Poesia, 2012 e 2014, sendo vencedor deste último na categoria Crônica, além de menções honrosas em outros concursos.
Participou do grupo poético/literário Taba de Corumbê, da cidade de Mauá-SP, e dos encontros Devaneios Literários, no Museu Barão de Mauá. Sempre presente na cena cultural da cidade, foi membro do Conselho Municipal de Cultura.
Fotógrafo e artista plástico, além de escritor, produziu inúmeros trabalhos em arte postal, participando de várias exposições por países da América Latina, América do Norte e Europa.
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desta forma
I
desta forma
banho-me em morfinas, águas – esquecimentos,
e finas pétalas
para que o espírito e a alma
durmam separados
e enovelados em ninhos ofídios
o campo do sonho
foi arado e plantado com ossos
dos renascidos de cinzas e brasas dormidas
dos borralhos dos remorsos remexidas pela manhã
II
e se tu
podes despender de teu brilho
cerâmica em brasa
como derramas ouro em minha fronte
cerâmica de cal de ossos
de oleiros invisíveis
de úteros terrosos
*
artífice
o poeta
como o oleiro
é um artífice
das cinzas
do tempo
faz
o barro
para seu ofício
amalgamando as palavras
letra por letra
retirando pedras e impurezas
moldar
até dar a forma
que acha perfeita
depois as abandona
ao fogo lento
do esquecimento
deixa secar
em fundo de gavetas
aos poemas/vasos
que sobreviverem
dará nome e novo alento
mas
quem lhes verão a arte
serão outros