Dois poemas de João Henrique Balbinot
João Henrique Balbinot, nascido em 1989, paranaense de interior, é escritor e também psicólogo. Como autor, publicou os livros de contos No arco-íris do esquecimento (Ed. Multifoco, 2012) e Permeabilidades do Intransponível (Ed. Patuá, 2016), e também os livros de poesias Pequenezas e outras infinitudes (Ed. Multifoco, 2014), O medo de tocar o medo (Ed. Patuá, 2018) e Meta amorfoses de um corpo abjeto (Ed. Patuá, 2020).
Contato: jh_balbinot@hotmail.com
***
Objetos de destruição em massa
Revoltas enrodilham meus passos
Taciturno e vacilante atravesso o descampado
Em insignificâncias
Trazendo no pensamento abandonos
No peito o que fui e recusaram, sem sequer fugir
Andando sob minha sentença
Em uma caminhada que sedimenta as loucuras esquecidas
Faço o contorno da besta androide que me fez sucos entre seus dedos
Em outro tempo, em outro mundo quando preservava ainda algo como um sonho
De sangrar apenas por amor, de sanguinolências apenas frente às injustiças
Foi quando então percebi que mato tudo o que piso
E me entreguei às metálicas mãos que também desejavam meu fim
Ao me fazer líquido, me deu a capacidade de engordar gotas
E pingar numa poça marcada pela união de minhas humilhações
Coadunado ao nada a nado retornei como que fincado na carne da terra
Condenado ao vagar entre meus pensamentos
Lambo o metal hoje em ferrugem
Retendo na língua o gosto de uma promessa
Oxidada pelo retinto intento do amor
Nessa modesta substância
Em um momento onde as drogas mais pesadas imperam
Enquanto os girassóis cumprem sua dança
Para um sol deus que em fogo nos matará apenas com o extinguir de toda sua chama
E as rosas avançam ferinas prontas a fincar o mundo com seus espinhos
Depositando em cortes o seu veneno que aos poucos petrifica minhas pernas
Nesse lugar onda as coisas recusam suas funções
E inventam uma vingança que guardam para nós
*
Nos rastros do desmantelo
Implodir
Implantar tamanho furo
Implementada sapiência da falta
Como seguir à derrocada, pai,
Como se morre?
Como perder os sentidos, os cardinais e demais sensos?
Como se provar débil? E insustentável arcabouço irresoluto?
Vou ficando em esquinas e quinas
Com a vida aos flagelos
Lapidando meu fim
Mas é tão vão meu descaminho
Meu despencar tão manso
Tão vadias as pregas do tempo que me definham
Obediente fui a ti e a tudo
Sempre em esquálido descrédito
Um fracasso crasso tão tímido me toma
Tão aos poucos
A mando de quê?
Pequena mácula de mim
Como parir um vórtice?
Você sabe, pai? Ou apenas foi abençoado pela sua ignorância de bicho macho?
Como partir em devassa vastidão, sem ao menos parir?
Varrendo, arrancando da terra
Revirando rebuliço em coeso horror
Por que manter as nódoas?
Poderia eu ao menos ejacular o impropério do meu medo?
Despir as vestes de tanto desespero em espera
Cruzar lácteo um céu, lançando-se meteórico à minha tenra cova?
É preciso, pai
Implodir tamanha putrefação
Moagem desses dolorosos calos
Deixar de me conhecer nas voltas da mutilação
Conhecer o estreito absurdo que mora no meu sim
E em minhas outras formas fraquejantes de seguir
O retiro de tudo que abrandei em meu cansaço
Disso não se sara, pai, é sabido
Mas como libertar ao drama privado delito?
Todo o insuportável engolido em fatiadas doses
Em que se agigantou minha obediência
Que em esmero desenhei nas mais bonitas frestas de pavor
E continuança
Inliberto dos cânceres que cultivei e não brotaram
Lavrando telúricas conivências
Dando-me aos abutres, mas em regradas bicadas,
Por que, pai, tamanho agonizar?
E tempo de extermínio, pai
Em todo seu drama, arranques e desterritórios
Despregando pátrias e outros locais de regressos
Que persistem apenas na melancolia
Porque cansa, pai, não ser eliminado em ritornelos de selvageria
Exaspera-me viver como um vulto, a silhueta do que poderia ser
Minha tão amada dissidência que se apequena nas voltas do hábito
A inconclusão inexata do que em mim se prometeu
Sem negar, sem quedar, mas revolver mansa mesmice
Como mimetizar e relegar desespero aos ficantes
Como você conseguiu, pai?
Dessa vez prometo ouvir, projeto de fim
Projétil ao fim, arregaçado arremesso
Remetendo ao começo, arremate das pontas que fui soltando em trechos inglórios
E nas pontas, atear fogo
Para apagar e eternizar dúbias vontades
De receber ajuda, de ser seguido em doce emboscada
E sobretudo esquecer-me de como voltar ou ficar
Como faço, pai, pra qu’eu partindo, reste alguém tão desesperado como eu em seu suplantado encerro?
Como suplicar e ser atendido, pai? Ensina-me o seu cansaço