Dois poemas de Judi Olli
Judi Olli, pseudônimo de Judikerle P. de Oliveira, é professora de Língua Portuguesa/literatura, mestra em Estudos Literários no Programa de Pós-graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal de Mato Grosso (2019), em que analisou a “poética do olhar” nos poemas de Lucinda Nogueira Persona. Escreve desde quando descobriu que a poesia se conectava com alguns vazios que ela não nomeia, mas os contorna.
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Das angústias
I
Há dias em que o aperto no peito soa mais agudo
Mais latente e vivo
Misto de derrotas com culpa.
Se o Ser é defrontar-se com a ferida aberta
Não se pode chamar de dor
Mas de viver
Isso que se sente
E que se é.
Estar aí
Nesse buraco
Não carece de sentido
Nem de argumentação
É apenas o sendo do Ser
Que rompe com o passo anterior
E decide por outro caminho.
II
Não há pausa
Há
Não há sentido
Há
Não há consolo
Há
Não há encobrimento
Nem simulação
Tudo paira num limbo
Sem nome
Sem razão
Sem
Ser
III
Esta semana, todos os dias, a angústia insiste em me engolir
O medo
A espera
O peito pesado
Sintomas de uma vida que não é possível maquiar com o filtro novo do Instagram
Repetidos dias que voltam
a gritar, em algum lugar,
Mas que o corpo já não consegue
transferir para o visível
Está tudo ocultado, encoberto
Sem som
Sem ao menos um ruído de
humanidade
[Naqueles dias]
em que
a vida está pausada
Como o suspiro interrompido pela morte
Falta o ar
No peito
Na vida
Nos dias que não se somam
Não se sucedem
*
Baile de máscaras
HÁ Náusea
Entrelaces de interesses
O poder ocupa o lugar
As sombras que solidificam
essa estrutura
sempre estiveram lá
Tem corpo, nome, comportamento e lugar
Mas é nulo
Vazio
Oco
Ecoa, mas não ressoa
Não consegue
Significar
Geraldo Augusto Fernandes
Excelentes poema, judi. Sensibilidade profunda, gosto de tristeza no abandono da solidão