Dois poemas de Marina Grandolpho
Marina Grandolpho nasceu em 1987 na cidade de Catanduva, SP, e atualmente vive em Campinas, SP. Formada em Letras pela UFSCar e doutora em Estudos Literários pela Unesp, é professora e escritora. Também é mãe e feminista, e foram esses dois últimos papéis que a provocaram em definitivo no sentido de compartilhar a sua escrita. Possui textos publicados na Revista Ruído Manifesto e na zine autoral Por debaixo da carne sou palavra; além disso, criou uma newsletter, na qual publica quinzenalmente. maquinário feminino e outras conversas (Editora Patuá, 2023) é seu livro de estreia.
Os poemas abaixo integram maquinário feminino e outras conversas, que está em pré-venda no site da Editora Patuá.
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HEREDITÁRIAS
os gritos vêm do passado
e trazem o horror costurado
na memória do vestido
agredido e despido
em meio ao gemido de dor
o puído da relutância
transpassa as gerações
e reverbera os ruídos
dos murmúrios e berros
silenciados outrora
desgraçadamente,
remoemos as marcas hereditárias
carregadas nos genes de nossas
mães, avós, bisavós, tias
porque, acreditem, elas
— ainda —
nos doem.
*
GOTA D’ÁGUA
uma gota a mais
passou do limite
e fez trans
bordar
o copo
cheio
d’água
se formou uma poça
e, da poça, a gota
se
descolou
avistaram então
a minúscula partícula
que
rolou
pela mesa
até
escorrer
para
o
chão
irremediavelmente
tentaram contê-la
mas perceberam que
a gota d’água
já não estava sob
controle