Dois poemas de Marise Hansen
Marise Hansen.
São Paulo, SP, Brasil
Poeta, autora dos livros Porta-retratos (2015, Ateliê Editorial), A Palavra acre (2022, Patuá) e do perfil @poesiagora (IG).
Doutora em Literatura Brasileira (USP). Professora de Literatura; FFLCH – USP e UNIVESP.
Coordenadora da Motirõ, Escola de Criação Literária da Oceanos Cultura.
Participação no volume “Contemporâneas” da revista de poesia Vidas Secretas, nas antologias Ruínas, (Editora Patuá) e Mulherio das Letras Portugal 2020 (In-Finita), entre outras.
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Um poema para quando
(Atenção: este poema é para quando
Você tem de fazer tudo
E o que você faz é nada
Para quando
Você quer abraçar o mundo
E as mãos estão amarradas).
Um poema para quando
A esquina é muito longe
E o minuto é muito longo
Para quando
O que você tem é muito
Mas outros dizem “nem tanto”.
Um poema para quando
O cansaço é maior que a fome
Você dorme e ronca mais que a barriga
Para quando
Você quer dizer “te amo”
E não há tradução na língua.
Um poema para quando
Tudo o que resta é gente
Feroz ou indiferente
Para quando
Tanta gente diz nada
Comovente ou relevante.
Um poema para quando tudo.
Um poema quando tudo para.
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Rosa casa concha
Rosa
Casa
Concha e tudo o que se abre
E fecha
Lua
Nuvem
Ave e tudo o que flutua
E passa
Mar
Lágrima
Riso e tudo o que deságua
E limpa
Gato
Livro
Vinho e tudo o que aquece
E voa
Sonho
Cama
Corpo e tudo o que distrai
E ama
Medo
Credo
Tédio e tudo o que amordaça
E mata.