Dois poemas de Mohamed Walid Grine
Mohamed walid Grine, contista, poeta e tradutor argelino. nascido em Argel, em 1985. Graduado em tradução (Universidade de Argel). Atualmente moro e trabalho em Argel como professor associado de tradução árabe-francês-árabe no Instituto de Tradução (Universidade de Argel).
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Nosso amor é uma causa
Contigo, meu amor,
a bela história começou,
e agora continuamos a avançar juntos
Nós nos tornamos uma mão
E construímos o nosso ninho
sempre nos apoiando, mutuamente.
No começo éramos dois,
e há dois anos
nós nos tornamos três
desde que você deu a luz
à nossa estrelinha
que se chama Maya,
fruto do nosso amor.
Dois professores somos,
juntos caminhamos,
e boxeamos
as dificuldades econômicas
que enfrentamos,
avançando sempre.
O nosso amor é uma causa
baseada em princípios e valores comuns.
Nós gostamos da espontaneidade.
Rejeitamos as maneiras artificiais.
Não gostamos do intelectualismo.
Queremos manter nossa felicidade
à nossa maneira,
sem copiar a vida burguesa,
acumulando nosso capital sentimental.
Partilhamos a tristeza e a alegria.
Assim somos, assim pensamos.
O bem-estar deveria ser de todos,
Não de uma minoria privilegiada.
Acreditamos na filosofia da Solidariedade
e odiamos a filosofia do egoísmo e da rapacidade.
O nosso amor é uma causa,
E te digo
como disse o poeta
falecido Nazim Hikmet
Cujos poemas você gosta
Eu te digo, Nina minha
que pensar em você é algo bonito e esperançoso
Nosso amor é uma coisa linda
¡Que Deus o abençoe!
*
Como um pintassilgo
Respiro,
Amo,
Escrevo ou traduzo poemas
sempre que posso,
à minha maneira.
Eu escrevo ou traduzo
para compartilhar
com o leitor / a leitora
um sentimento, uma ideia
uma reflexão.
Escrevo versos
indignados, revoltados.
Escrevo versos cheios
de amor, de alegria,
de luta, de resistência,
de fé e de paixão,
para manter vivo
o meu coração.
Com a vida cara eu luto,
sobretudo neste fim de mês.
Eu ganho a vida dando
aulas de tradução
numa universidade pública,
para levar o pão ao meu ninho,
composto por minha esposa, minha filha e eu.
Esta vida cara que nos impuseram
os senhores do dinheiro
e os adeptos da religião do Capital.
A tudos esses digo:
Vocês nunca poderão
ser senhores da minha alma
porque em mim há
um pintassilgo;
não aquele habituado
a viver enjaulado,
mas o Pintassilgo
da Alcáçova de Argel
e dos montes do Djurdjura e do Aures,
voo livre.
Em mim há um pintassilgo,
cheio de amor,
pela justiça, dignidade e liberdade.
Cheio de fé na solidariedade
e na resistência,
popular e coletiva.
Este amor e esta fé vêm de longe
Eles vêm das antigas
lutas populares
dos nossos bisavós,
camponeses e operários,
contra a escravidão e a resignação,
para a terra, o pão e a independência.
Meu espírito Pintassilgo
bebe desta antiga fonte
de militância revolucionária.
Como um pintassilgo sou eu,
Entre outros pintassilgos.
Não aceito a jaula.
A minha fé não se encarcera.
NÃO SE ENCARCERA!
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