Dois poemas de Viviane de Oliveira
Viviane de Oliveira, 1996, é pernambucana e historiadora.
***
eis a imagem pregada à noite:
meus pés vacilando
meu corpo de sal desfazendo-se no
teu corpo de sal
nossos nomes sendo ditos,
gritados, escancarados até se
perderem nessa noite van
nossos corpos de tão densos e a um só tempo impalpáveis,
são já rastros datados de 1672
uma pintura à óleo de Willem van de Velde II,
somos um barco no mar tormentoso que ameaça a qualquer quarto de hora naufragar
gosto da sensação dos meus pés nos teus pés, pendendo – mais um conjunto de algas nas correntezas de safo – nossas pernas desfeitas em espumas e conchas e estrelas e silêncio
somos então corpos, já sem nome,
tumultuando a noite
jorrando ao toque
virando mar.
*
bastaria pela manhã teu corpo
inteiro
a entrelaçar meus pés na linha
das tuas mãos
antes do meio-dia
bastaria teu corpo ainda noturno e incompleto
a procurar em mim por cursos de rio
se então intacto
teu corpo, de tão concreto, guardar a ti somente
bastaria, talvez, os sonhos de um corpo ainda vindouro
ao qual se espera sobre a cama, a devorar lençóis,
com os olhos espremidos.