Dois poemas de Zoë Naiman Rozenbaum
Zoë Naiman Rozenbaum (São Paulo, 1997) é escritora, pesquisadora e atriz em formação. Cientista social graduada pela Universidade de São Paulo, escreveu e publicou de forma independente seu primeiro livro de poesia Mergulho em Apneia (2021). Atualmente, vive na França, onde estuda arte dramática no Conservatório Darius Milhaud Paris XIV. E eu te matei bem aqui (2023), publicado pela Editora Laranja Original, é seu segundo livro.
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XXXIII
esquecer-te
da tua imagem desprender-me
figura que desaparece
tão fácil e simplesmente
como quando te criei
mas ter sempre comigo
algo seu
que em mim reaparece
que se faz presente
uma ideia que me assombra
um demônio que me arrasta
um fantasma que me persegue
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XXXIV. orquídea negra
i. atirar a primeira pedra pode ser um fim e um começo. a certa altura, explicações não são suficientes, justificativas não suprem a demanda. queria me livrar da viscosidade da tristeza, mas só tenho uma flor em mãos. uma flor, e isso já me basta.
ii. foi aí que entendi que cansei. cansei de esperar o príncipe, o sapo, a maldição. cansei do papo torto da fada madrinha, da varinha de condão. podem se aposentar; não vou mais estar no meio da multidão estulta lutando por um buquê de rosas brancas que não sei nem dizer, ao menos, se realmente o quero. afinal, sempre gostei mais das orquídeas.
iii. são nos campos inférteis, nas terras improdutivas, nas casas roubadas que aprendemos a retomar o que é nosso; o que foi destruído, negado e retirado desde que nos fizemos presentes nesse mundo. amanhã, serei a fronteira de expansão de uma floresta impenetrável, plantada por minhas próprias mãos; serei semente que brota botão de uma única flor; um diamante bruto, uma orquídea negra.
e tudo isso já me basta, mesmo que para os outros não seja suficiente.
sou culpada por todas as virtudes que abracei.
Jocelio Bezerra da Silva
Poesia destituída de sentimentalismo porém o “eu” se insinuando um sentimento contido que latejando no fundo da alma escorre em versos