“Elvis” (2022) – Por Julia Barbara
É tempo do prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.! Como todo ano, a premiação, também conhecida como Oscar, supostamente indica e condecora os melhores filmes, atuações e trabalhos técnicos da temporada. Um propósito no qual falha, às vezes de modo ofensivo para os amantes da sétima arte, desde 1929. O que ocasiona decepções e polêmicas, aumentando seus detratores. Oscar, afinal, é honraria da indústria e não reconhecimento artístico. Por outro lado, o troféu tem seus admiradores, que se sentem representados pelas escolhas da Academia e até promovem bolões. Mesmo críticos de cinema têm esse hábito.
Independentemente do amor, da repulsa ou da indiferença, o “The Oscar goes to…” segue cativando e movendo cinéfilos, confirmando o lugar da festa hollywoodiana como a maior cerimônia de premiação de cinema que existe no mundo (cuja audiência diminui ano após ano).
Como amamos cinema (e assumindo as incoerências da vida), convidamos escritores, críticos e estudantes de audiovisual para escreverem sobre alguma das 10 produções indicadas à categoria principal: a de melhor filme.
A estudante de Cinema e Audiovisual Julia Barbara examina mais um candidato ao troféu mais cobiçado do cinema estadunidense, Elvis de Baz Luhrmann, que reafirma a paixão da Academia por cinebiografias.
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Elvis. Direção: Baz Luhrmann. País de Origem: Estados Unidos, 2022.
Quando questionado na CinemaCon, em Las Vegas, sobre seu mais novo longa, Elvis (2022), Baz Luhrmann afirmou não o ver como um filme biográfico e mais como “um filme sobre a América ao longo das décadas de 50, 60 e 70.” O cineasta ainda foi mais longe e disse que, na verdade, Elvis é como um filme de super herói, visto que Elvis foi o herói original. Pode-se dizer então que Luhrmann atingiu seu objetivo ao realizar um longa de super herói, com um trabalho tão histriônico e oco quanto tantos outros do gênero.
O longa, com um pouco mais de 130 minutos, explora a ascensão de Elvis Presley (Austin Butler), através da ótica de seu empresário de longa data, o “Coronel” Parker, interpretado por Tom Hanks. Como um típico vilão, Parker é apresentado na trama com direito a uma breve história introdutória, porém, sem muitos detalhes, suficiente para instigar o espectador quanto às suas reais intenções.
Ele encontra o herói, Elvis, quando este ainda não havia tomado consciência de todo seu potencial. Através de uma sequência frenética que flerta com a animação, Baz mostra como um jovem, aficionado por histórias em quadrinhos, de origem humilde, encontrou-se musicalmente e identitariamente cercado pela comunidade afro-americana. Em cenas que simulam o descobrimento de sua força, o Elvis ainda criança, na Igreja, toma-se pela música, enquanto paralelamente, o jovem Elvis espelha a mesma fúria, de maneira mais enérgica, em um palco frente a inúmeros jovens. Ele contagia o público e a montagem não poupa esforços em estender isso ao espectador. Os movimentos pélvicos de Presley hipnotizam as jovens extasiadas na plateia e deveriam suscitar o mesmo efeito na audiência, porém, tão rapidamente como a cena começou, ela logo acaba, abruptamente, tanto para o rapaz no palco como para quem assiste.
Posterior a esse primeiro encontro, não demora para que Elvis e Parker comecem a trabalhar juntos, como mentor e discípulo. O Coronel estimula o jovem, levando-o acreditar que o céu é o limite e que, tal como as figuras que ele outrora admirava, agora ele pode voar. O cantor logo se transforma, suas roupas características viram seu uniforme, sua casa nova, sua fortaleza, sua família e amigos são seus parceiros fiéis, seguindo por todo os Estados Unidos, ao passo que também são sua kryptonita, especialmente, sua mãe. Após perder o irmão de Elvis no parto, Gladys Presley (Helen Thomson), tornou-se uma mãe excessivamente protetora, nutrindo um vínculo muito inflexível com o gêmeo sobrevivente, Elvis. Ainda que a relação entre eles não seja muito aprofundada no filme, Baz se arrisca brevemente a mostrar como foi para o jovem e sua família experenciar tamanha perda, abrindo margem para uma maior carga emocional na obra, todavia, em um piscar de olhos, o público já é levado para outro lugar.
Tão rápido quanto seu luto, logo floresce seu amor ao encontrar Priscilla (Olivia DeJonge), no período em que serviu militarmente na Alemanha. O relacionamento, de notável significância na vida do músico, é uma mera pincelada, para posteriormente dar mais enfoque em sua estadia e residência em Las Vegas, onde ele viria a começar a cair após “voar” muito perto do sol.
E esse talvez seja o problema de Elvis. Tudo ocorre de maneira muito acelerada e histérica, algo já característico no cinema de Luhrmann, no qual perdura o estético e o visual, mas sem possibilidade de suscitar qualquer elo com quem assiste ao longa. Os momentos mais profundos da vida do cantor passam velozmente, numa possível tentativa de cobrir tudo, caindo no infortúnio de não contemplar nada, ainda mais se tratando de uma figura tão complexa e com uma trajetória tão única. Com um forte potencial para ir além num universo tão extenso, as únicas sequências que atingem a grandiosidade almejada são as musicais, como a apresentação de If I Can Dream, no especial de Natal de 1968, onde a originalidade do diretor vai ao encontro do frenesi de Butler, resultando em um deslumbre e magnetismo digno de um herói.
Superficial, Elvis é uma obra sem fôlego que comprime mais de 20 anos de Presley sem nunca se aproximar verdadeiramente de sua persona, ainda que a direção de Baz Luhrmann chegue perto de exemplificar um pouco do alvoroço de um Rei.
VACCARI, Bia. Baz Luhrmann diz que enxerga Elvis como um filme de super-herói. 2022. Disponível em: <https://www.omelete.com.br/filmes/baz-luhrmann-diz-que-enxerga-elvis-como-um-filme-de-super-heroi>. Acesso em 01/03/2023.
BERGESON, Samantha. Baz Luhrmann’s “Elvis” Is ‘Not Really a Biopic’ but an Ode to the ‘Original Superhero’ Presley. 2022. Disponível em: <https://www.indiewire.com/2022/04/baz-luhrmanns-elvis-not-biopic-original-superhero-1234719986/>. Acesso em 01/03/2023.
Onde assistir: HBO Max
* “Me chamo Julia Barbara, tenho 23 anos, sou estudante do terceiro semestre de Cinema e Audiovisual na UFMT e eu desenvolvo uma pesquisa voluntária de Iniciação Científica sobre o cinema do Neville D’Almeida.”