Ensaio sobre Aurora – Nina Maria – Por Rafael Bessa
Sinopse da coleção: . Ensaio sobre Aurora fala sobre conexões, entregas, afetos, liberdade, mistérios e permiti sentir, ser e ousar.
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Falar diversas línguas
Despir com o olhar
Arrepiar o corpo e a alma
Mas ir devagar
Captar o momento
Juntas os fragmentos
Risos, palavras, gestos
Respeitar o silêncio
Zelar a companhia
Brindar a vida
Dançar e eternizar
Na fotografia, na memória
Amar o instante
Se entregar
Chorar faz parte
Encarar o dia seguinte
À medida que a bebida
Sai do corpo
Tentar
Não esquecer
*
Dos mistérios que há em ti
Teu nome ressoa em mim feito melodia
Me perco e me acho
Nas curvas do teu sorriso e olhar
E me embriago
Ao observar teu ser
Ora princesa, ora fera
Ora louca, ora esperta
Serena, que (me) fascina e encanta
Sendo, simplesmente, ela.
*
Que teu nome
Seja sempre
Sinônimo de liberdade
Entrega, loucura e amor.
*
Aurora
A meia noite
Quando as luzes se apagam
Algo em ti reluz.
Num impulso de coragem
Entre o álcool e o prazer
(de ser quem se é)
Teu corpo dança
Ao som de acordes
Que só você conhece.
Em meio a beijos e outros,
Palavras, toques, sussurros e olhares
(segredos e vontades inconfessáveis)
Uma nuvem de fumaça te protege.
E no despontar da aurora
Teu sorriso nu
Se (des)conhece.
*
Nina Maria, natural do interior da Bahia, da cidade de Santo Estevão. Nascida em 2000. É preta, lésbica, poeta, escritora, produtora cultural, editora e curadora da revista e site Ruído Manifesto. Graduanda em letras com língua francesa – UEFS. É autora dos livros A flor da Pele (2019), Ela – Poemas e Cartas de amor (2020), Há nove luas em mim (2020) Eu vendaval Eu furacão (2021), Ensaio sobre Aurora (2022). Possui a poesia como essência e guia de vida, escreve para não morrer e dar sentido ao universo do qual vive. Sua poesia existe e resiste de maneira à flor da pele, presente em algumas antologias nacionais e internacionais, e poesias traduzidas e publicadas no exterior.
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A coluna Sob o sol das escrevivências – alicerçada na genialidade desse conceito, cunhado por Conceição Evaristo – busca contribuir com a democratização ao acesso e a publicação de autores que são invisibilizados pela elitização da literatura, questionando sobre “O que é ser poeta e escritor?” e “Quem pode ser poeta e escritor?”. Deste modo, em nossa coluna serão publicadas pessoas que com suas escrevivências entregam ao mundo seus textos e poesias potentes. Até porque a sociedade capitalista que vivemos preza e valoriza o ter. O ter financeiro, o ter do status, o ter dos títulos. Já nós, enaltecemos o “escrever (que não se restringe apenas a linguagem escrita), o “viver” e o “se ver”. Por isso, aqui serão publicados escritores e poetas da Bahia que SÃO: são potentes, são arte, são literatura, são poesia e sobretudo são as suas escrevivências, existindo e resistindo no mundo e ao elitismo literário.
Rafael Bessa é um jovem negro, santo-estevense que iniciou sua trajetória no mundo em 1997. Pesquisador e Futuro professor de Geografia pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Rafael, no final de sua adolescência, encontrou na poesia uma forma de existir e experienciar o mundo. Mas foi nos anos iniciais da sua vida universitária que sua relação com a poesia se intensificou. Em 2018, com amigos, fundou o grupo “Válvula poética”, o qual promoveu algumas intervenções artísticas e o incentivo à escrita como válvula do mundo e para o mundo. Em 2021, teve algumas poesias publicadas na revista Ruído Manifesto. Atualmente tem a poesia, também, como meio de resistência, denúncia e disseminação da geografia com uma escrita geopoética.