Especial “A Arte do Encontro” – Um poema de Diogo Cardoso e Jeanine Will
O Especial “A Arte do Encontro” reúne poetas para um desafio: o de conceber um poema a quatro mãos, duas cabeças e dois corações.
A proposta foi feita a trinta poetas, quinze duplas. Optamos por não sugerir uma dinâmica, deixando a cargo das duplas inventarem seu método de criação, suas soluções e engendrarem idiossincrasias próprias. Não pensamos nos convites tendo em mente poéticas que dialoguem, mas no desafio da escrita, da composição e até da comunicação.
É possível a poetas tão díspares encontrarem juntas(os) o caminho da criação? Ou será uma parceria leve de estilos e visões que se comunicam?
Em “A Arte do Encontro”, as palavras-chave são criatividade e liberdade. E tudo é absolutamente livre: tema, extensão do poema, processo etc.
O Especial “A Arte do Encontro” faz parte das celebrações do quinto aniversário da Ruído Manifesto. Organização de nossos editores Matheus Guménin Barreto e Wuldson Marcelo.
O sexto volume traz o encontro entre Diogo Cardoso e Jeanine Will, que nos entregam o poema Dente a dente, a palavra roça a pedra.
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Diogo Cardoso é graduado em Letras pela Universidade de São Paulo e Mestre em Literatura pelo IEB-USP. Traduziu, dentre outros, O cometa incandescente – romantismo, surrealismo, subversão, de Michael Löwy (em parceria com Elvio Fernandes), Cartas de guerra, de Jacques Vaché, e A arte do erro, de María Negroni (em parceria com Ayelén Medail), publicados pelas Edições 100/cabeças, além de A mais recôndita memória dos homens (Fósforo, 2023), de Mohamed Mbougar Sarr. Poeta, é autor do livro Sem lugar a voz (Dobra, 2016) e da plaquete Paisagem e pântanos (Baboon, 2019).
Jeanine Will, humana amadora desde 1975, poeta, escritora, tradutora e artista visual. Nascida em Santa Catarina e vive em São Paulo. Formada em tradução e interpretação inglês/português pela Unibero. Autora dos livros Caminhão de Mudança (Córrego, 2017) e Pára-choques (Córrego, 2018). Contato: caminhaodemudanca@yahoo.com.br.
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[Dente a dente, a palavra roça a pedra]
Dente a dente, a palavra roça a pedra
a lua se esfarela sob os olhos de saturno
deitando noite no ruído dos corpos
inscrevendo estrelas irreversíveis na ponta dos sonhos
a noite percute luzes nos vãos da pele
arrastando lábios recém-encontrados
e os dentes abrem véus nos sóis dos seios
a língua inscreve o sagrado pelas paredes
palavras de dente de um deus suicida
num diálogo de interrupções temporárias
(Diego Cardoso. Crédito da foto: Pedro Spigolon).
(Jeanine Will. Crédito da foto: Jaozin Fotografia).