Nove poemas de Lucas Lujan
Lucas Lujan é curioso. Escritor, com formação em teologia, filosofia e história, usa as palavras ora como amigas, ora como adversárias. Viciado em explicar, se trata com psicanálise. É um romântico-existencialista, que tem no amor o sentido mais profundo da vida.
***
pedra
coloquei seu nome
em todas as pedras
do meu caminho,
para te culpar por tudo,
para não te esquecer.
*
não me jure amor eterno
não me jure amor eterno,
só me ame até o fim do dia.
e repita o mesmo amanhã.
entre a abstração do para sempre
e a concretude do hoje,
eu só quero que volte para jantar.
*
não me fale dos beijos
não me fale dos beijos
que não provou
nem da paixão
que não te possuiu
não me fale dos dedos
que não chupou
nem de um fogo
que não te consumiu
não me fale das lágrimas
que não chorou
nem do coração
que não destruiu
não me fale do abraço
que não quebrou
nem da despedida
que não te partiu
não me fale do olhar
que não te devorou
nem do pecado
que não te puniu
não me fale do passado
que não te sufocou
nem da redenção
que não te iludiu
não me fale dos beijos
que não chupou
nem de um fogo
que não te destruiu
não me fale dos dedos
que não quebrou
nem do pecado
que não te iludiu
não me fale das lágrimas
que não provou
nem do coração
que não te possuiu
não me fale do passado
que não te devorou
nem da despedida
que não te consumiu
não me fale do abraço
que não chorou
nem da redenção
que não te partiu
não me fale do olhar
que não te sufocou
nem da paixão
que não te puniu
*
na boca
na boca, um enorme coágulo,
garganta seca, fico calado.
pergunto, em silêncio ridículo,
com o pensamento agitado:
entre as mentiras que engulo,
qual me matará engasgado?
*
o rio nos separou
foi o rio que nos separou.
você procurou o chão
e quis atravessá-lo a pé.
eu, que nem queria atravessá-lo,
virei peixe e nadei.
*
em algum lugar dos teus dentes
eu queria que amanhã fosse outro dia
mas detido na mordida dos teus dentes
estou preso em algum lugar do passado
queria que amanhã fosse outra mordida
mas detido nos dentes de um passado
estou preso em algum lugar de outro dia
queria que amanhã fosse o passado
eu detido na mordida dos seus dias
preso em algum lugar dos teus dentes
*
é isto um fantasma,
não um morto que vaga pelo mundo dos vivos,
mas um vivo sem lugar no futuro;
é alguém que perdeu a perspectiva e,
agora, vaga pela existência tão vazio
que pode atravessar paredes.
*
O sentido é tornar-se.
como o rio, fluo
ao contrário dele, não sou
o rio flui com sentido
eu, não sei onde parar
o rio segue porque é
eu, para tornar-me
*
é preciso
aprender a morrer
mas de uma morte
sem pressa
que depois da lição
ande depressa
apenas na urgência
que há em viver