Nove poemas de Luz Gertrudes
Luz Gertrudes nasceu em São Paulo do Potengi, Agreste Potiguar. Vive a prosa cotidiana, entre versos, com a Malvina (mãe e poesia diária), escreve a existência sem rigor métrico. É apaixonada por literatura, música e céu noturno.
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À espera de harmonia
Ainda que distante
você vive em mim
o tempo
o compasso
a cadência do amanhã
o ritmo de nossas vidas
mú – si – ca
progressão de acordes
melodia
letra
canção
SOMos notas de uma partitura incompleta
*
Malva
O mar nos teus olhos
Ondas verdes coreógrafas
As nuvens bailam
Descortinando
Um poente azul
*
Ruído
Vozes múltiplas
o grito não silenciado: Manifesto
*
Vitrola
lado A
lado B
agulha no vinil
saudade em LP
reencontro
ausência
devaneio
trilha sonora
jazz
soul
rock
blues…
nossos corpos nus
vento
chuva
relâmpagos
trovoadas
despertei do sonho
acordei molhada
*
Ampulheta
Tempo inerte
Tempo célere
Tempo relativo
Ilusão?
Areia escoando
Vida fluindo
Mapas da saudade
Distância em expansão
Cronos
Horas
Ciclos
Movimentos
Tempo: protagonista ou vilão?
*
Fragmentos
Exilava-se na lírica do silêncio
a grafia da dor impressa em decassílabos inúteis
Visitava o passado
um cômodo inabitável
Navegava em lágrimas ardentes
lembranças felizes e conflitantes
A voz que ressoava longe
palavras punhais…
*
Constelação
Órion
Alnitak
Alnilam
Mintaka
Doce infância
Sob o brilho das Três Marias
Minhas preces
As deusas e os deuses ouviam?
Rígel
Betelgeuse
Azul
Vermelho
Minhas favoritas
Na paleta do devir
Bellatrix
Saiph
Quadrilátero luminoso
Lentes
Telescópio
Um breve passeio
Nebulosa
M42
Céu estrelado
Noite
Nut
Nix
A mãe Lua Crescente
Meio sorriso noturno
*
Viagem
Entre caminhos
uma noite cheia de Lua
O brilho da luz do Leste
ilumina o andarilho estrada afora
O vento do Oeste
sopra e desenha o voo da ave noturna
Na escuridão
o canto da Suindara prenuncia liberdade
*
Labiríntico
Na fronteira do tempo
pretérito imperfeito
Longe de mim
o enigma do pássaro
Memórias desnudam
sentimentos indecifráveis