Oito poemas de Danielly Lima
Danielly Lima dos Santos ou L.S.D.Bass, é bacharel e licenciada em Filosofia pela UNESP (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”). Atualmente cursa o mestrado na mesma universidade, estudando sobre a filosofia no Brasil colonial. É membro da Associação Brasileira de Estudos do Século XVIII (ABES XVIII). Faz parte do GEFIME – GEFIC (Grupo de estudo de Filosofia da Ciência).
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uma mulher que é como a própria lua: tão linda que só espalha sofrimento
– Vinicius de Moraes
EU SOL; ELA LUA
Disse-me que eu era como o sol.
Não contou que odiava o verão…
No anseio de te ver, imaginei o encontro,
sem o primeiro, os próximos eu planejava.
Eu em um abraço acalorado,
você em um sentir desconfortável.
Entendi, afastei, mesmo assim acreditava,
afinal, por qual razão me encontrara?
Eu era o sol, mas é da escuridão que gostava.
Precipitou-se na conclusão de que a gente não combinava,
Entre uma cerveja e outra, suas razões eu negava,
Sem que eu percebesse, devagar você se entregava.
Como o sol eu me pus para ver mais de você,
ao me pôr, como a lua, você apareceu,
impossível de tocar, mas o tempo é meu amigo,
venho a chuva te aproximar, eu parecia não mais te queimar.
Eu me ponho só para te ver brilhar,
nossa noite foi um eclipse lunar.
O sol e a Lua, nossos corpos, um perfeito alinhamento,
e dos contrários, um etéreo composto.
Quanto tempo esperar para nossos corpos se encontrarem?
Se você é lua e eu sou sol, podemos nos consumar.
Nossos dias serão como o eclipse solar,
nossas noites serão como o eclipse lunar.
SOL LUMINOSO; LUA ILUMINADA
O Sol conversava com a Lua.
A Lua parecia abatida:
Não tinha luz própria, ela dizia,
não era luminosa, apenas iluminada!
Ele pediu que abrisse os olhos,
uma multidão lhe contemplava.
Sim, eu a ilumino, disse o Sol,
a beleza é sua, não minha!
Não ia querer ser luminosa,
nunca seria alcançada, seria solitária,
sim, todos me olham…, com óculos de Sol.
A verdade? Só me querem de longe!
Mas, quando te faço presente,
minha luz já não é mais ardente,
A luminosidade que queimava, agrada
quando estou com você, minha é luz mirada!
Futuro de um Pretérito Mais-Que-Perfeito
Eu nunca tive muita perspectiva,
meus futuros são catastróficos e,
nem nos melhores dos meus mundos,
nem em sonho anteveria sua chegada.
É verdade, com você o por vir parece mais bonito,
todavia, como dissera Pessoa, eu sou triste,
tenho dificuldade de imaginar o bem,
como poderia, você, meu bem, perdurar?
Mesmo assim, você sabe, há um tempo,
vivo a sonhar, sempre a viver, porque sei que pode acabar.
Meu amor não, o que vivi, dificilmente se apagará!
Saiba, para o meu primeiro amor, me farei memorial.
No futuro, provavelmente te tenha ausente.
Não sou religioso, mas no presente, sou abençoado.
No passado, você será o meu pretérito mais-que-perfeito.
Eternamente, viverei no subjuntivo de um nós.
CIÚMES OU PRELÚDIO DO FIM
Quatro calmantes, eu tomei, sem efeito.
Ainda não sei a razão de sentir tanto.
Nunca pensei em quão funda é a dor.
Não conjecturei a sua partida.
Não agora, não por isso!
Você tinha razão, eu devia ficado,
insistido para você me aceitar,
todavia, eu senti você me trocar.
Eu já não estava mais ali,
tremenda vontade de fugir!
Eu não queria ficar, você queria,
permaneci, mais tempo a me maltratar.
Trocada, eu sei, não foi o que viu lá.
Não conseguia aceitar, doloroso,
presenciar sua mão por ele a passar,
não conseguia, inimaginável!
Eu não fui embora, meu corpo ficou,
mas eu, meu eu, se desintegrou.
A cada carícia nele, sentia sua partida.
Então chorei, alto, ridículo, eu sei!
Queria que não me visse desabar,
não queria, não queria que acabasse.
Eu sei, provavelmente não era isso,
mas eu sentia outro no meu lugar.
Imaginei vários cenários de um fim.
O mais engraçado? Este nunca passou por lá!
Sai para andar, um pássaro morto,
nele senti meu ser, meu mundo a acabar.
Sim, eu tenho muitas coisas a tratar,
contudo, comuniquei, disse que estava a me magoar,
você continuou, pareceu não se importar.
Essa casa já não parece mais um lar!
POESIA DE SOFRIMENTO
Acidente de trânsito.
Alguém? Chame os paramédicos!
Preciso ser salvo…
Sei que errei, desabilitado no amor,
avancei os sinais vermelhos.
Não dizem que o amor é cego?
Eu sou no mínimo daltônico…
Colidindo com o seu não gostar,
meu coração em perda total.
Há salvação para mim?
Chegaram os médicos,
dizem não haver ferimentos,
por fora sem danos,
Diagnóstico: eu vou viver,
Com a dor crônica de nunca te ter!
FASES DA LUA
O Sol conheceu a Lua,
apaixonaram-se!
Ah, a Lua em sua fase nova.
Lua nova, voltada ao Sol,
sentia-se iluminada,
prometeu que ficaria.
A Lua nova não se olhava,
O Sol resolveria, a fez vista.
A Lua crescente se via!
A Lua e o Sol no quarto,
quarto crescente,
A Lua se afastava,
Lua, crescente gibosa,
O Sol quase não a via,
A terra entre a Lua e o Sol.
A Lua se encheu do Sol.
Lua cheia, inalcançável.
Sol vazio, abandonado.
POESIA DE ABANDONO
Eu não me escuto!
Outrora escrevia,
poesia de sofrimento.
Segundo encontro,
já doía tanto.
Persistir no encanto.
Acidente de trânsito,
diagnóstico: não te ter.
Disse-me não ser o fim.
Venho ao meu socorro.
Em terra já éramos colisão.
Chamou-me para voar.
Insistir no engano.
Hoje escrevo:
Poesia de abandono!
Disse não me soltar,
errei em acreditar,
vejo-me cair no ar.
Senti me abandonar,
as promessas a se quebrar,
tentei me segurar.
Você em terra firme,
a me observar,
eu lentamente despencar.
Não sei me salvar!
ainda te amo,
sigo me odiando.
ENQUANTO EU RESPIRAR
(ou enquanto eu me odiar?)
Oi, meu bem, eu sinto sua falta,
mas tudo bem, eu ando bem,
um dia de cada vez, faço parte dos românticos anônimos.
Ah, show do teatro mágico, lembra?
a mágica era toda sua, meu espetáculo era você.
Hoje não é mais tempo, mas não lamento.
Hoje escrevo para o passado,
Ah, o pretérito-mais-que-perfeito
Como eu queria falar em futuro.
Eu sei, lá também existe muita dor,
mas não venho falar de lamentos, hoje não.
Você lembra da minha promessa?
Olha, eu ainda estou respirando, eu falei:
enquanto eu respirar vou me lembrar de você.
Mas relaxe, é só enquanto eu respirar.
Falam que é a mulher de Descartes, sei que é mentira,
Se ele te encontrasse, não diria: penso, logo, existo.
Mas escreveria: respiro, logo, lembro de você.
Eu sei, também pensei ter te expulsado das minhas linhas.
Eu ainda sou um grande memorial de nós.
Faço o presente de você em palavras.
ManoelQueirozAssis
A subjetividade sempre presente nos poemas, é… Preocupante..
#PoetaFantasma
ManoelQueirozAssis
Sou o fantasma do poeta
Cujos versos ninguém os lê…
#PoetaFantasma