Oito poemas de Michaela Schmaedel
Michaela Schmaedel (1976) nasceu e mora em São Paulo, é editora de cultura e poeta. Cursou o CLIPE (Curso Livre de Preparação de Escritores), na Casa das Rosas, além de oficinas de escrita com Angélica Freitas, Tarso de Melo, Ricardo Domeneck, entre outros poetas brasileiros. É autora do livro Coração Cansado (Penalux, 2020), Quênia – poemas de viagem (Cas’a edições, 2021) e está na antologia As mulheres poetas na literatura brasileira (Arribaçã, 2021). Escreve resenhas sobre literatura para jornais e revistas e é editora do podcast Poesia pros Ouvidos.
Os poemas abaixo integram o livro Quênia – poemas de viagem.
***
Ainda somos o homem
ancestral agachado
na savana do Quênia.
*
À noite
Procuro
ossos
carcaças
pego
eu mesma
o que
consigo.
Carrego
eu mesma
a morte.
*
No passo
lento
dos elefantes
a busca pela
sobrevivência
se dá
em manada.
*
Há que aprender
a língua do outro
para que o corpo
corra junto.
*
Aproximação
Da visão do monte
reparo nisto:
a pouca
neve do topo
a falta de árvores
você na penumbra.
A beleza pode
ser isto:
a visão daquilo
que não se tem.
*
Samburu
O barulho discreto
das folhas das árvores
junto ao rio.
Um elefante
come capim
no calor extremo
do pico-vulcão.
Homens consertam
a cerca entre risos
e observam:
a constância é uma
forma de resistência.
*
Literatura
Uma girafa
que parece
correr
em câmera lenta.
*
Nakuru
Árvores mortas
no lago
há muito tempo
a água parada
nenhum pássaro
ou ninho em andamento.
Desabitado coração
da paisagem.