Onze poemas de Bomani Lima
Bomani Lima cresceu em Itambé na Bahia e reside em Vitória da Conquista, também na Bahia. É graduando em Cinema e Audiovisual na UESB e atua como roteirista, diretor, produtor e montador audiovisual. Amor é um jogo para perdedores é o seu primeiro livro de poesias publicado.
***
tenho medo de tentar.
tudo dentro de mim diz não,
as esperanças são minúsculas
mas existentes,
elas surgem como fagulhas,
são rápidas
e insurgentes,
tão lindas quanto
uma noite estrelada,
me fazem sentir,
sobre aquelas coisas
de ser e tudo mais.
*
eu gostaria de ser um gato
subir em cima de telhados,
eu gostaria de ser um gato
para subir em cima de telhados
e ir para o alto,
pular do alto
e subir de novo.
observar tudo de cima
sentir tudo de baixo,
eu gostaria mesmo era de ser um gato
subir em telhados
levar comigo as coisas de cima
para baixo,
eu gostaria mesmo era de ser
um gato.
*
continuo procurando
navegando até os mares possíveis
e impossíveis
mas continuo rastreando
seja o que for
continuo navegando
remarei com o meu coração
farei dos meus olhos binóculos
tocarei em terra firme
serei um dia aquilo
em mar desconhecido
o que for possível
cairei no mar e
me tornarei azul
flutuando sobre a imensidão
até um dia ser parte
fazer-me do nada
retornarei as águas
de um dia
que só a maré sabe.
*
amor é um jogo perdido.
ninguém ganha nada amando.
a gente compartilha sonhos,
criamos expectativas…
e depois tudo se vai.
-game over-
amor é um jogo para perdedores.
eu criei você,
eu me criei para você.
compartilhei meus medos, anseios,
inseguranças,
te mandei áudio de madrugada.
amor é um jogo para perdedores,
sobretudo quando alguém vai
e o outro fica (eu fiquei)
o outro fica (eu fiquei) com o que sobra,
as lágrimas
as idas aos cinemas
as músicas
os doramas
as leituras
as idas e voltas…
o outro fica sem o céu azul.
será que você ainda se lembra?
mas eu me lembro,
eu lembro.
e o sol se foi
para voltar amanhã,
ele sempre volta.
*por favor, não precisa responder essa
mensagem*
*
pegue leve comigo
a minha aparência é esquisita
seja carinhoso, posso falar muito rápido
e me perder dentro das palavras
falando o que devia na hora errada
e se por acaso o meu olhar flutuar
me beije rapidamente,
agarre suas mãos em mim
e me faça sentir você de verdade,
caminhe comigo sem medo
da sirene deles tocarem e nos encontrar,
me levando ao navio e te deixando sozinho,
você sabe que meu coração acelera.
não tenha medo de mim,
posso ficar uma semana na cisterna
delirando sobre coisas irreais,
quero mais da sua ironia
faça a semana passada ser hoje
mas não amanhã
sintonize comigo.
se for me deixar que seja lentamente,
preciso de rotina e de você constantemente
mas tenho medo de mim,
sou obcecado em quem já me deixou
gosto de nutrir o que já se foi,
é um ciclo fudido
mas se quiser ainda dá tempo
estacione entre a lua e as estrelas
na noite de domingo e me prometa
que não vai decolar
fique pra dormir e não me deixe
em uma esquina qualquer
rompa a esse ciclo sem me destruir
você consegue?
*
não sei como ser eu
finjo ser quem não sou,
procuro desculpas
encontro mentiras,
verdades que são mentiras
sinceridades voláteis,
vômitos matinais
é sempre difícil acordar
a cama me acalenta
o cobertor esconde os medos,
mesmo assim finjo,
às vezes sou bom
outras nem tanto
algumas pessoas compactuam
outras voam
eu pulo na cama.
*
não sei o que faço,
estou cada dia mais
opaco
no palco
sem palmas
sem flores
no camarim do meu
quarto
sobre a cama
há boletos
translúcidos
lúcidos
e caros,
hão de me comer
eles disseram
antes do tomate
esmagar sobre a minha face,
eu o mordi no ar
lá mesmo no palco
saciando a minha fome
sobre a minha boca
há muito vermelho
nas minhas veias
uma cicatriz
na minha alma
vazio
eles gritaram
eu chorei
as luzes se apagaram
amanhã tem mais.
*
o outro eu me odeia
ele me despreza
se entorta e desmantela
faz tudo ficar mais difícil
a sua voz é latente
luta por liberdade
diz ser verdadeiro
vibra em lamento
canta em tortura
sussurra tudo que sou de pior
espanha os meus medos
desfaz planos
enverga a realidade
deturpa meu coração
sangra o meu peito
diz em tom sonífero
“NÃO É VOCÊ”
estou no lugar dele
sou ele o tempo todo
sou o que ele tem medo
assim com ele é o que sou
desfaço tudo
uso dos jogos de luzes
sou um ator da vida
ele é o criador
sou personagem
o outro eu me odeia
eu me odeio.
*
domingo a noite é melancolia pura
sinto medo do sol de segunda
das atividades que com certeza
são importantes
eu sou desintegrante
não vejo quase nada relevante
já maratonei aquela série
tentando fazer dela terapia
delirando sobre personagens
projetando minhas mentiras
minhas verdades
fazendo o que faço de melhor
vivendo dentro da minha cabeça
procurando no inconsciente
alguma merda que me faça
entender toda essa desgraça.
direi a freud que ele não explica
gente branca complica.
domingo a noite é insuportável
o monólogo da minha consciência
é puro joguete
procurando nos outros aquilo
que ninguém consegue oferecer,
sou injusto, incoerente e nitidamente
não sei o que estou fazendo.
*
meu preto se você soubesse
o tanto que eu te espero
sairia agora do meu ori
e pularia em cima de mim
contornando o meu dia
com seus lábios
sua pele é igual a minha
suas dores são as minhas
a gente se vinga
pulando dentro do rio Nilo
banhando das águas originais
eu e você
de manhã cedinho você
fala baixinho “bom dia pretinho”
a gente tem que seguir assim
*
não me levo tanto a sério
vivo me desmantelando
procurando serenidade
e água fresca,
buscando nos meus
mais velho sabedoria
e perseverança,
dançando comigo mesmo
proseando com vovó
e fofocando com mainha,
desço a serra do marçal
para ficar com elas.
sou um tanto de coisa
sou quase nada,
tudo fluindo e acontecendo
ao mesmo tempo, mas tenho calma
tudo dói mas se cura depois,
desses jogos eu não faço mais parte
já entreguei o controle
quero mais é brincar errando,
quero tudo outro vez mais uma vez
& mais uma vez.