“Os manuscritos perdidos” de Charlotte Brontë – Por Andri Carvão
“O canal que mantenho no YouTube desde outubro de 2021, Poesia Nunca Mais, onde indico livros e compartilho algumas de minhas leituras, deu margem a que eu escrevesse minhas impressões de leituras como roteiros para a realização dos vídeos. A princípio em forma de tópicos, resolvi organizar os escritos de modo a que pudessem ser lidos em algum meio: blog, rede social, site etc. Com a apreciação sobre Os manuscritos perdidos de Charlotte Brontë prosseguimos com a coluna “Traça de Livro: …impressões de leitura…”.
Vida longa à Ruído Manifesto e aos seus leitores!”.
Andri Carvão é formado em Letras pela Universidade de São Paulo, autor de Um sol para cada montanha, Poemas do golpe, Dança do fogo dança da chuva e O mundo gira até ficar jiraiya, dentre outros. Apresenta o canal no YouTube Poesia Nunca Mais e publica poemas quinzenalmente no site O Partisano.
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Os manuscritos perdidos | Charlotte Brontë
Os manuscritos perdidos não é um livro de Charlotte Brontë (1816-1855) ou uma biografia da autora de Jane Eyre, mas sobre a família Brontë.
A matriarca Maria Brontë se casa com o reverendo do presbitério de Haworth, Patrick Brontë, dando início a saga de uma das famílias mais influentes da literatura mundial – as irmãs Brontë: Charlotte Brontë (autora de Jane Eyre), Emily Brontë (de O morro dos ventos uivantes) e Anne Brontë (de Agnes Grey). Além do trio de escritoras, Maria deu à luz a mais três filhos: as primogênitas Maria e Elizabeth, que faleceram ainda crianças, e Branwell, o único varão, pintor que não se tornou conhecido como as irmãs escritoras, mas foi responsável pelo famoso retrato das irmãs Brontë.
Branwell era parceiro de Charlotte na criação do reino imaginário de Angria, enquanto Emily e Anne criaram uma ilha no Pacífico Norte batizada de Gondal. Estes mundos fazem parte da juvenília, a obra imatura produzida pelas irmãs Brontë durante a infância e adolescência. Ao contrário das irmãs famosas, Branwell não deixou uma obra marcante.
O livro Os manuscritos perdidos é uma compilação de relatos produzidos por especialistas na obra da família Brontë sobre este que é um verdadeiro achado recente (2015!): o livro The remains of Henry Kirke White, obra do poeta promissor falecido precocemente aos 21 anos, selecionada pelo poeta Robert Southey.
O reverendo Patrick Brontë, patriarca da família, se orgulhava de ter conhecido e auxiliado o jovem poeta durante a universidade. Sua esposa, Maria Brontë, possuía um exemplar de The remains. Esta obra, juntamente a outros pertences da mamãe Brontë num baú, havia sido salva das águas em decorrência de um naufrágio. Após a morte de Maria, o viúvo reverendo Patrick Brontë preservou o volume como uma relíquia da família, um memento mori da esposa. Seus filhos, influenciados pela leitura incessante do livro do poeta romântico Henry Kirke White, deixaram manuscritos de poemas e esboços de romances (como o embrião de O morro dos ventos uivantes, p. ex.), além de anotações sobre os poemas às margens das páginas e desenhos ao longo de todo o volume. O pai enterrou a esposa e todos os seus seis filhos que faleceram jovens. Com o desaparecimento do último integrante da família Brontë, o livro The remains of Henry Kirke White passou de mão em mão de colecionadores até ser negociado por um dono de sebo dos E.U.A. diretamente com o Brontë Parsonage Museum na Inglaterra, retornando assim depois de mais de um século à residência da família Brontë na cidade de Haworth em 2015.
O livro Os manuscritos perdidos, além de narrar a trajetória da família Brontë, traz material ricamente ilustrado com páginas do livro The remains of Henry Kirke White, trechos de manuscritos das irmãs, desenhos de Branwell e fotos de livrinhos miniaturas, produzidos pelas escritoras.
Os manuscritos perdidos é composto por um prefácio da atriz britânica Judi Dench, presidente da Sociedade Brontë, além de textos das maiores especialistas sobre a vida e a obra da família Brontë: Ann Dinsdale (Perdido e encontrado), Barbara Heritage (A arqueologia do livro), Emma Butcher (Uma visita a Haworth: unindo fantasia à realidade), Sarah E. Maier (Cristais partidos: rapazes, sede de sangue e beleza) e Ann-Marie Richardson (Reinventando o céu).
Encontrei por acaso este Os manuscritos perdidos num estande giratório de uma banca de jornal, a Banca do Raul, no largo da Vila Carrão em São Paulo. Um verdadeiro achado! Tão incrível quanto um manuscrito amarelado numa garrafa em alto mar…
Edição lida:
BRONTË, Charlotte, ANN, Dinsdale, HERITAGE, Barbara, BUTHER, Emma, E. MAIR, Sarah, Os manuscritos perdidos, tradução: Thereza Christina Rocque da Motta, 176 p., Faro Editorial, 1ª edição, 2019.