Para Eunice – Por Hugo Lorenzetti Neto
Na coluna mensal “Jerônima” (clique aqui para acessar todos os textos da coluna), a bonita Hugo Lorenzetti Neto nos traz – no melhor estilo eu-miss-desejo-a-paz-mundial – traduções de autoras e autores de diversas línguas e partes do globo. Diplomacia com plissado rosê. Regras: 1) cada coluna é um baile temática, os textos traduzidos têm um tema em comum; 2) uma espécie de ensaio inédito do colunista amarra sempre as traduções. A coluna irá ao ar sempre na última quinta-feira do mês.
Hugo Lorenzetti Neto é diplomata e tradutor, e atuou quase toda sua carreira, de 2006 até o momento, na área cultural do Itamaraty. Atualmente lotado no escritório do Ministério em Recife, oferece oficinas de escrita e realiza clubes de leitura, além de divulgar poesia em seu projeto O Caderno Rosa (@ocadernorosa, no Instagram).
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Para Eunice
Prólogo ou Soco Inicial
Um rapaz – um rapaz que não toquei nem quis tocar, para que fique clara a total falta de erotismo da situação comunicacional – falava em sua estética de fracasso enquanto usava o corpo mais perfeito para cruzar a noite. Sua língua nativa, o português. Ainda assim, perguntei se lhe interessava uma tradução da Balada da Arrasada, de Ângela Rô Rô.
O fracasso não recebe mil likes por foto no Instagram.
O fracasso é necessariamente feio.
Fracasso kawai não é fracasso; é, sei lá, uma coisa em que dá vontade de dar um soco.
A tal da “estética do fracasso” não deveria ser um barzinho num bairro em gentrificação franca tocando Milky Chance ou o que quer que qualquer um esteja ouvindo à noite, menos de 40 anos depois de seu nascimento.
Soprando o soco
I felt a funeral in my brain,
And mourners, to and fro,
Kept treading, treading, till it seemed
That sense was breaking through.
And when they all were seated,
A service like a drum
Kept beating, beating, till I thought
My mind was going numb.
And then I heard them lift a box,
And creak across my soul
With those same boots of lead,
Then space began to toll
As all the heavens were a bell,
And Being but an ear,
And I and silence some strange race,
Wrecked, solitary, here.
And then a plank in reason, broke,
And I dropped down and down–
And hit a world at every plunge,
And finished knowing–then–
/
Senti um funeral em meu cérebro,
E os doridos, de lá para cá,
Ficavam andando, andando, até parecer
Que algum sentido irrompia.
E quando estavam todos sentados,
Um cerimonial, como um tambor
Ficava batendo, batendo até que achei
Que minha mente se entorpecia.
Então os ouvi erguer uma caixa,
E ranger através de minha alma
Com aquelas mesmas botas de chumbo,
Então o espaço começou a dobrar
Como se todos os céus fossem um sino,
E o Ser apenas uma orelha,
E eu e o silêncio alguma raça estranha,
Metida a pique, solitária, aqui.
E então uma prancha na razão, quebrou,
E despenquei abaixo e abaixo–
E acertei um mundo a cada mergulho,
E terminei de entender–então–
E outro soco
Enquanto Emily Dickinson, morta, segue a elaborar funerais em sua cabeça, os estadunidenses lançam uma série sobre – é sobre isso! – empoderamento com seu cadáver.
Vaca burra sem sutiã
Eu disse, lá na primeira coluna que escrevi para a Ruído Manifesto, que ela voltava.
Eunice de Souza era uma poeta nascida no estado de Maharashtra, e pertencia – por força de expressão – à comunidade goesa católica de Bombaim (então – hoje Mumbai). Foi professora por mais de trinta anos no St. Xavier College da capital do estado. Expressava-se em inglês. Disse uma vez, em uma entrevista que não consigo encontrar agora, que antes de conhecer o feminismo conhecia o ódio contra a condição da mulher indiana. Na quarta capa da antologia “Necklace of skulls” (Colar de caveiras), um crítico diz que sua poesia é imediata (achei ofensivo) e orientada por um sentido de declaração sem reservas. Entendo que as noções de impacto e de imediato se confundam, e faz sentido, mas a poesia de Eunice de Souza é complexa e cheia de camadas, talvez até quanto mais curto o poema. Ela se esmurra para que o soco atinja quem a lê: camadas desse ódio que ainda desconhece a possibilidade de se organizar politicamente – camadas concentradas em poucas linhas.
Eunice de Souza combateu o ódio misógino organizando antologias e eventos de poesia de e com autoras indianas, e antologias gerais de poemas indianos de expressão inglesa em que mulheres eram ao menos metade das pessoas participantes. Discutia essas e outras questões em colunas semanais – teve uma com longa duração no Mumbai Express.
Sua poesia é mais complexa que isso. Tinha isso, mas não é só isso.
Eunice de Souza se apresenta (também) assim:
Eunice
Eunice, Embroidery Sister said
this petticoat you’ve cut
these seams
are worthy of an elephant
my dear
Silly bra-less bitch
Eunice is writing bad words sister
she’s sewing up her head
for the third time sister
the limbs keep flopping
the sawdust keeps popping
out of the gaps
sister
/
Eunice
Eunice, Irmã Bordado disse
que esta anágua que você cortou
estas costuras
são dignas de um elefante
minha querida
Vaca burra sem sutiã
Eunice está escrevendo palavrão irmã
ela está costurando a cabeça dela
pela terceira vez irmã
seus membros estão sempre despencando
a serragem está sempre estourando
para fora dos buracos
irmã
Essa boneca Emília do submundo – é preciso escolher as palavras mais dolorosas para traduzi-la. Pensei em como minhas tias dizem “cadela” para xingar. “Bitch” como puta é muito. “Bitch” não é uma palavra que me pareça significar puta, não a puta da prostituição – whore fica mais nisso. Lembrei como se chamavam de vacas as professoras difíceis na escola, e pensei especialmente no quanto uma professora de português da oitava série, a Leda, era referida assim por sua rigidez e certo merecido (por nós) mau humor. Leda me lembrou Eunice, e como o xingamento é representado como vindo das outras meninas da escola católica – e eu fui aluno de Leda no São José. Entrego, então, dois animais em vez se um: a vaca e a burra – por causa de “silly.” Podia ser tonta, mas burra é mais xingamento de escola. Ajuda a reduzir humanidade, e talvez a ver as tetas sem sutiã. Traduzir Eunice de Souza exercita a crueldade autoinfligível, é doloroso: fazer-se outra boneca de vodu e espetar a si mesma para espetar quem lê.
Não bem isso
Don’t Look For My Life In These Poems
Poems can have order, sanity
aesthetic distance from debris.
All I’ve learnt from pain
I always knew,
but could not do.
/
Não Procure Minha Vida Nestes Poemas
Poemas podem ter ordem, sanidade
distância estética do detrito.
Tudo o que aprendi com a dor
eu sempre soube,
mas não dava conta.
Uma das lições da poesia de Eunice de Souza, que veio a se misturar no meu processo na psicanálise, foi de percepção: perceber e sentir o poder de organizar o mundo, de assentá-lo numa forma, a forma do poema. Ordem, sanidade e organização do detrito – em Rua de mão única, Walter Benjamin elabora o olhar infantil, que, por estar mais embaixo, não está na perspectiva do mundo adulto: enxerga mais os retalhos e as sobras que os edifícios e o mundo ordenado pelo capitalismo. O fracasso como estética está nesse olhar honesto para o que não está elaborado pelo capitalismo. O êxito de uma estética de fracasso vem da reação das estruturas capitalistas à forma que reordena o mundo a partir de seus pedaços de imediatismo cansado, e o tenta colocar sob sua guarda – e daí a minha irritação do fracasso alegado de meninos bonitos e jovens cheios de sentimentos, a se dizerem velhos aos 28 anos para um brejo admirado de seguidores de redes sociais. O êxito é fracasso, como para a bactéria o remédio é veneno. A estética do fracasso fracassa ao não fracassar, ao se submeter às regressões do sucesso. E assim se aprofunda. Não tem nada de imediato aí, pelo contrário. É uma fenda.
Eunice de Souza, talvez minha poeta favorita, ou uma delas, me ensinou que biografia não é o poema; que o pacto de honestidade nunca é muito honesto. Ou é, mas é honesto com a forma, com a elaboração do entulho. A outra honestidade está na vítima do vodu. A dor em si só ensina o que se sabe e – escolhi de novo as falas de minhas tias para traduzir o poema – não se consegue dar conta.
Alta comédia
O fracasso como estética alterna-se entre dor abandonada e profunda, inevitável e impossível de ser reformulada como qualquer outra imagem, e a alta comédia. A sedução, os olhos de foca ameaçada pela catástrofe ambiental, esses recursos não são da estética do fracasso. Eunice de Souza tem personagens desse tipo de comédia distribuídos entre procuradores de um eu; figuras de sua comunidade católica brâmane (o catolicismo em Goa adota o sistema de castas) e personagens a quem se dá combate.
Family Gossip
St Christiana lived long before
ODORONO made the scene and
St Christiana hated
the smell of people.
It made her nostrils quiver
just to see them coming
and even their best friends
didn’t tell them
to stop crowding her.
So what could she do poor thing
but take right off
and hover near the ceiling
in a rage.
But bless me if they didn’t
just stand there
gawping.
/
Fofoca de família
Sta Christiana viveu muito antes de que
REXONA entrasse em cena e
Sta Christiana odiava
o cheiro do povo.
Suas narinas fremiam
só de o ver chegar
e mesmo seus melhores amigos
não diziam a ele
que parassem de se apinhar.
Então o que ela poderia fazer pobrezinha
além de decolar imediatamente
e pairar perto do teto
em fúria.
Mas valei-me se
não ficavam ali
boquiabertos.
Minhas tias não fazem ideia como seus idioletos originários parte do sertão pernambucano e parte do interior de São Paulo próximo à divisa com o Mato Grosso do Sul estão sendo empregados. No entanto, o título já leva a essa familiaridade. Minhas tias católicas, minha escola católica: é preciso buscar esse idioma, mesmo que minha experiência com minhas tias tenha sido mais amorosa que qualquer outra coisa. “Valei-me”, “cremdospai”. A segunda eu usei em versão anterior dessa tradução – deste poema de juventude de Eunice de Souza que saiu só na coletânea, em nenhum livro antes. Ismar Tirelli Neto e Márcio Junqueira me ajudaram a escolher Rexona como marca de desodorante antiga. “People” ficou por “povo”, para dar horror aristocrático ao milagre de Sta Christiana, que já tem o nome do cristianismo. O horror ao cheiro do povo marca a alta casta da família católica goesa – e aí “pobrezinha” entra como palavra irônica e familiar ao mesmo tempo.
Poem for a Poet
It pays to be a poet.
You don’t have to pay prostitutes.
Marie has spiritual thingummies.
Write her a poem about the
Holy Ghost. Say:
‘Marie, my frequent sexual encounters
represent more than an attempt
to find mere physical fulfilment.
They are a poet’s struggle to
transcend the self
and enter into
communion
with the world.’
Marie’s eyes will glow.
Pentecostal flames will descend.
The Holy Ghost will tremble inside her.
She will babble in strange tongues:
‘O Universal Lover
in a state of perpetual erection!
Let me too enter into
communion with the world through thee.’
Ritu loves music and
has made a hobby of psychology.
Undergraduate, and better still,
uninitiated.
Write her a poem about woman flesh.
Watch her become oh so womanly and grateful.
Giggle with her about
horrid mother keeping an eye
on the pair, the would-be babes
in the wood, and everything will be
so idyllic, so romantic
so intime
Except, that you, big deal,
are forty-six
and knows what works
with whom.
/
Poemas para um Poeta
Compensa ser poeta.
Você não precisa pagar por prostitutas.
Marie tem faniquitinhos espirituais.
Escreva-lhe um poema sobre o
Espírito Santo. Diga:
‘Marie, meus encontros sexuais frequentes
representam mais que uma tentativa
de encontrar mera satisfação física.
Eles são a luta de um poeta para
transcender o self
e entrar em
comunhão
com o mundo.’
Os olhos de Marie brilharão.
Chamas Pentecostais descerão dos céus.
O Espírito Santo vai tremer dentro dela.
Ela balbuciará em línguas estranhas:
‘Oh Amante Universal
em estado de perpétua ereção!
Deixai-me também entrar em
comunhão com o mundo através de vós.’
Ritu ama a música e
transformou a psicologia em seu hobby.
Graduanda, e melhor ainda,
não-iniciada.
Escreva-lhe um poema sobre a carne da mulher.
Assista-a tornar-se tão feminina e grata.
Brinque com ela sobre
a mãe horrível espiando
o casal, os chuchuzinhos
na floresta, e tudo será
tão idílico, tão romântico
tão intime
Detalhe que você, grande coisa,
tem quarenta e seis
e sabe o que funciona
com quem.
Cenas fortes de apropriação indevida da estética do fracasso – da fragilidade – na figura do poeta machista. “Thingummies”, no começo do poema, é uma palavra que se traduz por “coisinhas” – palavra que usei em versão anterior da tradução. Mas o faniquito me parece mais carola. O fricote. O frisson de uma Santa Teresa mal lida: uma certa crueldade proibitiva com a vítima. A poeta do fracasso não é uma boa pessoa, não está do lado correto da vida, da pessoa que acerta tudo – e por isso acerta mais do que quem anda linha, de quem escreve o que “deve” ser escrito. E vai para o cômico. Uma crueldade cômica, que é a opacidade interessante na estética euniciana. Ela é malvada, sim, claro que é, e por ser malvada mesmo, por acessar a malvadeza, ela autenticamente implode o mundo odioso.
A dor destilada
Um dos poemas ainda cômicos coloca uma colega como personagem de uma gafe. A fotografia do constrangimento me parece estar entre a graça e um tipo de dor que não é da ordem da facada, mas do desconcerto. A colega vaga, por estar vaga, remete a uma espécie de proximidade, de história como aquelas que aconteceram com “uma amiga” (e aqui entra Malu, minha colega de embaixada, que tem muitas histórias de amigas, e cuja fala mineira é também referência para meu trabalho de tradução).
Conversation Piece
My Portuguese-bred colleague
picked up a clay shivalingam
one day and said:
Is this an ashtray?
No, said the salesman,
This is our god.
/
Puxando Conversa
Minha colega criada em Portugal
pegou um shivalingam de barro
um dia e disse:
Isto é um cinzeiro?
Não, disse o vendedor,
Este é nosso deus.
Vá ao google imagens e coloque shivalingam. Esse objeto, feito quase sempre em pedra, é a representação do pênis (lingam) de Shiva – que vem com a vagina – também de Shiva e de suas representações femininas, como Parvati, Durga e Kali, esta última a referência do colar de caveiras – em torno. Pode parecer, sim, um cinzeiro, embora talvez não se deva dizer isso. E é justamente essa fragilidade ante ao discurso adequado que faz o constrangimento. A que você e eu também estamos expostos, com a diferença de que a vida (sic) na virtualidade tão material das redes hoje pode ser cancelada. O erro não é celebrado, mas ele está ali nas ambivalências da pessoa formada na colonialidade.
Star-Gazing
The light I saw in you
love
came from a dead star.
I am to blame for this:
star-gazing at my age
is an ambiguous art.
/
Olhar estrelas
A luz que vi em você
amor
veio de uma estrela morta.
É tudo minha culpa:
olhar estrelas com minha idade
é uma arte ambígua.
Há muitos poemas doloridos de amor na obra poética de Eunice de Souza. Esse é um dos inéditos até a coletânea. É da obra de juventude. “Isso com a minha idade” então não fala necessariamente de “velha demais para”. Ou fala. Coisas que só chegam muito antigas, como a luz das estrelas sobre a Terra.
Remember Medusa?
My dumb ox loyalty is
the frozen heart
the frozen stare
of long aloneness
unpeopled even by terror
Remember Medusa,
who could not love
even herself?
Better the flailing
the angry words
burning through the brain
the certain sorrow
than letting go than the fall
slow motion
into that abyss
Each life-line of words
years in the making.
/
Lembra Medusa?
Minha fidelidade canina idiota é
a arte congelada
o olhar arregalado congelado
de longa solidão
despovoada até pelo terror
Lembra Medusa,
que não conseguia amar
nem a si mesma?
Melhor a agitação
as palavras raivosas
queimando pelo cérebro
a tristeza garantida
que abandonar que a queda
em câmera lenta
naquele abismo
Cada linha de vida de palavras
anos em construção.
O título, Remember Medusa, colocado como questão, subverte a solenidade dos poemas ou versos que são Remember alguma coisa como imperativo. A volta para o clássico: Remember a guerra, a batalha, a vitória, e outras coisas tão solenes. Aqui ela convida à proximidade com a figura clássica, com o arquétipo do desamor, que entra na vida amorosa, numa espécie de biografia que acaba sendo mais de quem lê, de quem concorda e se aproxima.
Lealdade
Women in Dutch Painting
(for Melanie Silgardo)
The afternoon sun is on their faces.
They are calm, not stupid,
pregnant, not bovine.
I know women like that
and not just in paintings–
an aunt who did not answer her husband back
not because she was plain
and Anna who writes poems
and hopes her avocado stones
will sprout in the kitchen.
Her voice is oatmeal and honey.
/
Mulheres na Pintura Holandesa
(para Melanie Silgardo)
O sol da tarde em suas faces.
Estão calmas, não estúpidas
grávidas, não bovinas.
Conheço mulheres assim
e não só em pinturas–
uma tia que não retrucou a seu marido
não porque fosse simples
e Anna que escreve poemas
e espera que suas sementes de abacate
brotem na cozinha.
Sua voz é aveia e mel.
O poema de abertura do livro de mesmo nome, Mulheres na pintura holandesa, Eunice de Souza dedica a Melanie Silgardo, também poeta, amiga e parceira de projetos editoriais. Essa homenagem se estende a mulheres, família e companheiras, em silêncio e em fala, posando como modelos e subvertendo a pose no quadro, tendo como instrumentos o que são e o que que desejam, ainda que a aparência disso seja de pouca coisa. No mundo patriarcal, seguem fracasso; sem heroísmo. E ao mesmo tempo o que têm não entra na chave do romance. Não é bom ou ruim; é o que tem, o que sobrou. E definitivamente ambivalente e nada imediato.
Fracasso
Traduzi quase toda a obra de Eunice de Souza. Falta pouco para completar o álbum. Um número considerável de editoras brasileiras recebeu meu pedido de consideração. Ninguém respondeu. Vou voltar para dieta, academia, fazer um peeling a laser e uma plástica para ficar com cara de retrato simbolista melancólico; vou reformar meu armário. Ou, como em um poema que não está aqui, colocar uma blusa vermelha, uma saia preta e um colar de caveiras para seduzir uma editora com catálogo interessante. Divulgar Eunice de Souza vale esse esforço, e estranhamente o desinteresse por uma tradução de tudo ou quase tudo que ela escreveu (ou por ler e-mails ou ambos) faz parte do projeto da estética do fracasso.
Epílogo
Dá azar falar em fracasso a três dias das eleições do fim do mundo?
Ismar Tirelli Neto está encerrando uma temporada de um mês aqui em casa, e ele, que sabe do fracasso verdadeiro também, me disse que invocar certos deuses de índole contrariadora pode colocá-los a trabalhar. Ele falava sobre eu dizer que não vou permitir me abalar por nada que não seja a escrita nas férias em que entro agora na esperança de sair da derrota completa – celebrada em burnout clínico – e conseguir escrever sem me apaixonar por nenhum rabo de saia com homem dentro em Belgrado.
Como no teatro: desejo merda para todo mundo (um pouco desejando merda mesmo, mas muito invocando deuses que operem para nos ajudar na sobrevida dentro do fracasso geral de nosso país).