“Pedro Páramo” de Juan Rulfo – Por Andri Carvão
“O canal que mantenho no YouTube desde outubro de 2021, Poesia Nunca Mais, onde indico livros e compartilho algumas de minhas leituras, deu margem a que eu escrevesse minhas impressões de leituras como roteiros para a realização dos vídeos. A princípio em forma de tópicos, resolvi organizar os escritos de modo a que pudessem ser lidos em algum meio: blog, rede social, site etc. Com a apreciação sobre Pedro Páramo de Juan Rulfo prosseguimos com a coluna “Traça de Livro: …impressões de leitura…”.
Vida longa à Ruído Manifesto e aos seus leitores!”.
Andri Carvão é formado em Letras pela Universidade de São Paulo, autor de Um sol para cada montanha, Poemas do golpe, Dança do fogo dança da chuva e O mundo gira até ficar jiraiya, dentre outros. Apresenta o canal no YouTube Poesia Nunca Mais e publica poemas quinzenalmente no site O Partisano.
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Pedro Páramo | Juan Rulfo
O escritor mexicano Juan Rulfo (1917-1986) é autor de três livros: Chão em chamas (1953, contos), Pedro Páramo (1955, novela) e O galo de ouro e outros textos para cinema (escrito entre 1956/58).
Pedro Páramo é a obra-prima de Juan Rulfo que influenciou escritores latino-americanos como Gabriel García Márquez e é considerada precursora do Realismo Mágico.
Por insistência de um amigo, Rulfo publicou um terceiro livro: O galo de ouro e outros textos para cinema.
Antes do título definitivo da obra, Pedro Páramo se chamou Los murmullos e Los desiertos de la tierra.
A obra completa de Juan Rulfo compreende pouco mais de 300 páginas. O autor dizia ter escrito um romance abandonado, que teria rasgado, chamado La cordillera. Chegou a anunciar a publicação do volume de contos Días sin floresta, mas desistiu da ideia.
Juan Rulfo foi grande influência para autores como o argentino Júlio Cortázar e o colombiano Gabriel García Márquez, que sobre o autor mexicano, disse: “A leitura profunda da obra de Juan Rulfo me deu, enfim, o caminho que buscava para continuar meus livros.”
Em parte, narrada em primeira pessoa por Juan Preciado, filho de Pedro Páramo, a história se passa na cidade fictícia de Comala, que serviu de inspiração para a Macondo de García Márquez e a Santa Maria de Juan Carlos Onetti, entre outras cidades ficcionais.
Como prometido à sua mãe Dolores “Doloritas” no leito de morte, Juan vai a Comala para conhecer seu pai, um lendário assassino.
O tropeiro Abundo é quem indica o caminho de Comala para Juan. Ao inquirir sobre o que pretende fazer em Comala, Juan diz que está à procura do pai, Pedro Páramo. O tropeiro Abundo afirma que também é filho dele.
Dona Eduviges Dyada é a dona da pensão onde se hospeda Juan Preciado durante sua estadia em Comala. Juan se instala na cidade e logo começa a sua busca.
Os capítulos intercalam a estadia de Juan em Comala a flashbacks de episódios da infância de Pedro Páramo.
Comala é uma cidade fantasma, ou antes, uma cidade dos mortos.
No país onde se comemora a Festa dos Mortos regada a tequila, a alegria da música dos mariachis e a dança típica com roupas estampadas de esqueletos e os rostos pintados ou com máscaras mortuárias numa espécie de carnaval mexicano, em Pedro Páramo o tom é lúgubre.
A novela é o ponto de partida do que se convencionou chamar de Realismo Mágico, sendo seu autor, Juan Rulfo, um dos principais precursores do boom da literatura latino-americana.
Trecho:
“- A senhora está vendo aquela janela, dona Fausta, lá na Media Luna, onde a luz sempre ficava acesa?
– Não, Angeles. Não vejo nenhuma janela.
– É que justinho agora ficou escura. Será que aconteceu alguma coisa ruim em Media Luna? Faz mais de três anos que aquela janela está alumbrada, noite a noite. Dizem, quem esteve lá, que é o quarto onde habita a mulher de Pedro Páramo, uma coitadinha louca que tem medo do escuro. E olha só: agora mesmo, a luz apagou. Não será um acontecimento ruim?
-Talvez tenha morrido. Estava muito doente. Dizem que já nem reconhecia as pessoas, e dizem que falava sozinha. Bom castigo deve ter suportado Pedro Páramo casando-se com essa mulher.” (p. 124)
Edição lida:
RULFO, Juan, Pedro Páramo, tradução: Eric Nepomuceno, 140 p., Editora Bestbolso, 6ª edição, 2009.