Quatro Poemas de Armando Martinelli
Armando Martinelli (@armando_martinelli_nt) nasceu em São José dos Campos/SP, e vive desde a infância em Campinas/SP. É graduado em jornalismo, mestre em divulgação científica e cultural, doutorando em Educação (Unicamp). Autor dos livros “Cabeça do cão na fenda do muro” (Patuá, 2023), “A luz do abismo” (Urutau, 2022), “Recital das Reticências” (Urutau, 2018), também tem poesias e contos publicados em algumas revistas e coletâneas digitais.
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Tatoo
Pedras flutuam
nas costas
tatuadas
do seu rio
Cabeça de cão na fenda do muro
Alguns centímetros acima da terra
divagar
o corpo deixa marcas
rizomas de outros carnavais
vá
amiúde
pergunte às orquídeas
a cabeça do cão na fenda do muro
vá
você também gosta de lamber detalhes
ouvir o assobio da cascavel
dança improvisada
sabedoria dos seres que rastejam
O tempo vira
O tempo vira
às 2h25 da madrugada
você toma mais um cálice de vinho tinto
alguém acende um cigarro na sacada
olhares se multiplicam na espera da próxima rodada
a mensagem aponta a queda do império
desiste de orbitar ao redor da Lua
a nave não tem (ou jamais teve) trem de pouso
abre outro Malbec e observa o quadro
tintas óleodesejo
vocês viram o filme sobre os sonhos Yanomamis?
há uma eletricidade na filosofia etílica
há uma busca por lábios que citam Deleuze enquanto o sabiá canta
o pássaro segue a voltagem da metrópole
os pássaros, os indígenas e as línguas possuem capacidades próprias de adaptação
3h33, que tal um sarau?
sempre tem alguém em busca de incêndios maiores
abre a camisa e lambe o peito esquerdo
entoa os versos de Ana Cristina Cesar
atrás dos olhos das meninas sérias línguas separatistas causam fissura de verdade
a linguagem agora tem outro ritmo
maré-saliva
você inala da fonte
não há outro mundo lá fora
até o sabiá silenciou
Sinais que a língua não alcança
A súbita junção dos rostos
você diz que aprendeu a dançar assim
eu só aprendi agora
sinais que a língua não alcança