Quatro poemas de Dani Brandão
Dani Brandão. Gosta de ver a vida pelas lentes do encantamento e escrever suas sutilezas por extenso. Teve sorte de ter Belo Horizonte como berço de suas descobertas. Hoje, tem a alegria de criar sua filha e ver suas ideias brotarem em Rio Acima, MG. É facilitadora de voos criativos, escritora, poeta, professora, mentora, designer, artista, redatora publicitária e criadora da Waau. Graduada em Publicidade e Propaganda. Especialista em Processos Criativos, pós-graduada pela PUC Minas. Acredita no poder de transformação pela escrita e pela criatividade. Por meio de conteúdos, (per)cursos e produtos poéticos, convida outras mulheres a se reconectarem com a sua sensibilidade criativa. Já teve contos e poesias publicados em antologias. Recentemente, lançou o breve livro das abreviaturas in.desejáveis, pela editora Eu-í, Selo Toma Aí Um Poema (2023).
Os poemas abaixo integram o livro o breve livro das abreviaturas in.desejáveis.
***
breves
contrações
contraditórias
I.
apressados,
reduzimos o riso
a restos.
anestesiados,
choramos pela
abstinência
da alegria.
rs.
(…)
III.
nos arriscamos
a cortar na carne
as certezas.
nos
condenamos
a degustar o amargor
das interrogações.
ctz?
(…)
IV.
sem cerimônia,
abreviamos o
abraço.
sem cortesias,
instalamos no
afeto um
freio.
abs.
*
a céu aberto
lá estava ela.
tão pequena, inocente.
três passos bastavam
para cruzá-la:
RUA.
mas não,
a pressa era certa,
a piedade pouca e
o atropelo fez-se caminho:
R.
ponto posto,
logo se puseram a vagar
seus restos soltos
pelo ar:
U
A
até que
em um poste
abandonado
elas puderam
se encostar.
no asfalto ainda frio
algo voltou a brilhar:
L. UA
*
antissinais
todos os dias
ao acordar
inspecionava o
próprio reflexo
em busca
deles
ah, os sinais!
os sinais de
expressão…
expressão
do quê?
pra quê?
pra quem?
ah, os sinais!
e a pressão…
a pressão
das palavras
não ditas
dos gostos
contidos
dos gozos
fingidos
dos gritos
oprimidos
ah, que sina!
todos os dias
ao acordar
lá estava ela
pronta
pote a postos
entregue
aberta
até os poros
todos os dias
ao acordar
sob a pele esticada
disfarçava as noites
de sono encurtadas
escondia as linhas e
os sonhos abreviados
e os sinais?
ah, os sinais
insistiam em resistir
os sinais
resistiam em insistir
ah, que sina…
no dia em que
completou sessenta
algo despertou diferente
naquela estranha manhã
ela ignorou por completo
o ritual no espelho
ao tirar a roupa
despiu-se também
dos padrões de blz
queimou de vez o
manual de etiqueta
dispensou os
automáticos
prfv e obg
mandou às
favas o r.s.v.p.
deixou para trás
os pedidos de
permissão
das licenças
só guardou
a poética
sem se dar conta
substituiu a loção
pela interlocução
decidiu que não mais
se contentaria em
ser uma mulher
de meia-idade
de meias-palavras
de meias-verdades
de meias-vontades
decidiu que não
mais se calaria
não mais se anularia
não mais se podaria
não mais
decidiu que nunca mais
colocaria os desejos de
todos à frente dos seus
decretou que dali em diante
desabreviaria a sua existência
decretou que dali em diante
escreveria a sua história assim:
por inteiro, por extenso, por intenso
ah, e os sinais?
os sinais agora
seriam todos
de vida ou divinos
e assim foi
Diva
*
torpedo
chega de msg.
cansei de vc e bj.
quero os seus lisos lábios
soletrando cada saudosa
sílaba em sol maior
sobre a minha
libidinosa
língua.
quero as suas macias mãos
circunscrevendo suave cada
letra em câmera lenta
sobre a minha eriçada
derme.
quero esse beijo
por inteiro.
quero você
por completo.