Quatro poemas de Diego Wayne
Diego Wayne é paraense formado em letras língua inglesa pela UFPA e pós- graduado no ensino de artes. Tem poemas publicados no blog do Plástico bolha, na revista A bacana, revista Ruído Manifesto, em antologia de jovens poetas paraenses, na revista de literatura Mallamargens, no site Tyrannus Melancholicus, no Fazia Poesia, na Revista Literalivre, na Revista Literatura e Fechadura. Ama literatura. Publicou em 2018 seu primeiro livro de poesias Coração de Unicórnio (Rico editora) e Entre Escopiões (editora Patuá).
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Réquiem
Deixem que os vivos
entoem o réquiem para os mortos
nas abobadas do coração.
O mundo é um cemitério sem cruz
onde uivam os cães da saudade
de quem nem disse adeus.
Incessante o choro enche pirâmides faraônicas
que guardam a fúnebre beleza da morte.
Somos todos escravos da convivência
da dor de perder e ter que viver
presenciando a beleza mortuária das flores.
Perder um amor
é ter um rato roendo a úlcera da ausência.
*
Abismos
Lua cheia
Álcool forte
Labirintite à beira do precipício
O desejo é uma hiena rasgando meu sexo a dentadas
Amor pra mim é um cadáver preso ao pé
Saco de sangue ingrato que
Que carreguei com minhas próprias mãos.
Amor
Esse amor meu meteu a faca em diagonal
Girando no meu peito
como se fora a fechadura de sua mansão vitoriana.
Fiz pacto com todos os demônios possíveis
Mas nada nasce em mim
Estou árido
Desértico
Lisérgico às dores alheias
Mesmo assim
Beberia em um gole só
Toda água do teu banho.
*
Cavalo de Tróia
Afogado na caixa d’água de casa
meu corpo expele seus fluidos
mesmo assim você sorri
bebendo champanhe na taça do demônio
num pub em Nova Veneza.
Solta fogos de artifícios o cavalo de Tróia
dado-me de presente
na última viagem ao sul.
Maléfico de dentes cerrados
pasta no peito do meu eterno amor
“maldito é o homem que confia em outro homem”
o beijo de Judas
a negação de Pedro
Aquiles que não teve piedade de Heitor.
*
Dor de coração
Cemitério de amantes
Estrelas mortas
Doença de chagas no coração
Açulado de paixão
Que pulsa à esquerda do peito asmático
A saudade disseca a alma
Com um bisturi de prata
Todos os apaixonados
São ratos num aquário de víboras
Sylvia plath cravando rubras unhas
Na jugular de Ted hughes
Que traz nas mãos um buquê de dores
Língua na pele
Pelos na língua
Erupção bacante
Meu desejo em carne viva
Devorando a mordidas
Teu pomo de Adão.