Quatro poemas de Eliane Debus
Eliane Debus tem graduação em Letras (1991), mestrado em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (1996) e doutorado em Linguística e Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2001). Atualmente é professora da Universidade Federal de Santa Catarina, atuando no Departamento de Metodologia de Ensino e no Programa de Pós-Graduação em educação. É líder do Grupo de Pesquisas LITERALISE: Grupo de pesquisa em literatura Infantil e juvenil e práticas de mediação literária, da Universidade Federal de Santa Catarina. Tem experiência na área de Educação e Letras, com ênfase em Literatura Infantil e Juvenil, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura infantil e juvenil, temática africana e afro-brasileira na literatura infantil e juvenil, formação de leitores, formação de professores e leitura literária. Email: elianedebus@hotmail.com
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João e Maria
Durante uma vida
Maria aturou João
João aturou Maria.
Maria cozia,
João comia.
Maria lavava… Passava!
João vestia… Saía.
Maria sofria
João sorria.
Durante uma vida
Maria gerou angústia
pariu solidão.
Maria amava João
João amava Maria…
Mariana, Marinês, Mathildes…
Maria enlouquecida
matou-se com a faca de pão.
João colocou luto na faca,
não mais comeu pão!
Maria pros céus se foi.
João…
Casou-se com Dorotéia
essa mulher de pulso firme.
João cozia…
Dorotéia lia fotonovelas
lixava as unhas
não lavava a roupa.
João, pobre homem,
amava Dorotéia.
Dorotéia não amava João.
Amava sim, Batista
Paulo, Manuel…
Dorotéia fugiu com Sebastião.
João…
Morreu de solidão.
[3º Lugar no Concurso Literário FAFIMAN – Mandaguari – PR – 1990]
*
De livros
Pé por pé
no silêncio
da tarde mansa
penetro no espaço
de novidades
infindáveis.
Toco e retoco um a um os livros da estante,
no prazer constante da descoberta.
Desvendar mistérios…
Conhecer caminhos…
Embrenhar-se em desconhecidas aventuras aladas.
Meu destino…
Viajar por labirintos de palavras,
catalogadas e encadernadas
sobre a estante adormecida.
Eu a penetrar no mundo de sonhos reais!
*
Anéis
Saturno
com seus anéis a girar
suspira
suspira uma cantilena triste
saudades dos dedos que se foram..
só os anéis
a girar…
*
Cenas da infância
(Para minha irmã Ligiane e às meninas Raupp)
Prego enferrujado no pé pequeno,
comidinhas
folhas, restos de café e areia
em latas de sardinhas,
na surdina do quintal.
Maribel sem pernas
sepultada no morro atrás da casa!
Corre, corre!
Pega, pega!
Esconde, esconde…
Do boi da cara preta
do bicho papão.
Festinhas aos domingos
embaladas pelo som do rádio de pilhas, pipocas e bilheteria.
Numa tarde mansa,
a mana desembestou, brigou.
Furou a cabeça da Marinete
com uma lata de azeite Violeta.
A mãe cortou o embalo da música.
Amadurecemos mais cedo!