Quatro poemas de Eva Potiguara
Eva Potiguara pertence ao Povo Potiguara Sagi Jacu em Baía Formosa/RN, é escritora, ilustradora e contadora de histórias. Graduada em Artes visuais, Mestrado e Doutorado em Educação pela UFRN. Ganhadora do prêmio jabuti 2023 na categoria Fomento à leitura. Professora e pesquisadora do IFESP-SEEC, atuando nos cursos de Pedagogia e Letras. Produtora cultural da EP PRODUÇÕES, tem livros solos publicados, é membro da UBE/RN, da SPVA e de várias academias de Letras no Brasil e em Portugal. Tem livros solos infantis e de poesia, publicados no Brasil e em Portugal. É Articuladoras nacional do Mulherio das Letras Indígenas e ganhadora do Prêmio Literatura de Mulheres Maria Carolina de Jesus 2023, na categoria Romance.
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Retomada
Estou voltando para casa…
Às raízes que me afloram
Às trilhas que me arvoram
Aos escombros matriarcais
Aos retalhos dos ancestrais
Estou voltando para casa…
Solo das sementes sagradas
Das terras e faunas violadas
De mulheres benzadeiras telepatas
De homens caçadores das matas
Estou voltando para casa…
Pelas pegadas do bem viver
Pelas mãos da resistência
Sigo nesta picada sem temer
Com as vozes mães
Da consciência
*
Escrevivências
A minha escrita
Eu uso para dizer o que me cala
A minha pele
É um mapa de histórias colonizadas
As minhas memórias
São rios que teimam cobrir abismos
As minhas vozes
Desejam acordar ladrões de sonhos
*
ELAS
Lá vem Elas,
As formigas em marcha
Das Cidades, Cerrados e matas
Seguindo a resistência ancestral
Enfrentando as leis escravocratas
Do capitalismo colonial
Quem são Elas?
Mulheres filhas da Terra
Irmãs das águas e da flora
Militantes em guerra
Xamãs das ervas caapora
Elas cantam
Suas memórias e curas
Do Amazonas, às vilas rurais
Suas lutas em noites escuras
Acusam as injustiças imperiais
Elas combatem
O silêncio da injustiça
O Marco Temporal genocida
A ganância que atiça
A morte da vida
Elas seguem
Sendo Terras, Raízes e Sementes
Fortes como o sol em chamas
Reflorestando corpos e mentes
Dos biomas Pindoramas
*
Mulher
Quem é você mulher?
Sou a Erva da cura e das dores
A deusa plural e singular da vida
A macha das margaridas em flores
A lágrima na partida da mãe vó
A geradora dos filhos multicores
O poema do leite que flui do peito
Erva
O coração que não cabe temores
O silêncio que acusa a injustiça
O grito que atira nos opressores
A bela e a fera sem véus
Sem pudores!