Quatro poemas de Josemar Kizanga
Josemar Kizanga, nascido e vivido em Luanda. Um jovem que quer ser poeta.
***
Ele tinha planos
vivia planejando
planejava viver
quem sabe?
numa dessas,
vai que alguma coisa
finalmente aconteça
se ao menos
tivesse coragem
para sair de casa,
mas a vizinhança
não ajuda,
as coisas andam perigosas
lá fora
o mundo gira
mais depressa
do que pode caminhar
volta e meia
bate uma tontura
quer dar meia volta
voltar para casa
trancar a porta
e ficar pensando
em poemas
como esse,
no frio,
em algum lugar
para se aquecer,
em alguém
que devia esquecer,
na próxima tragédia
por acontecer,
nos planos
pensados
escritos
e abandonados
por medo.
*
Ele tinha planos
vivia planejando
planejava viver
quem sabe?
numa dessas,
vai que alguma coisa
finalmente aconteça
se ao menos
tivesse coragem
para sair de casa,
mas a vizinhança
não ajuda,
as coisas andam perigosas
lá fora
o mundo gira
mais depressa
do que pode caminhar
volta e meia
bate uma tontura
quer dar meia volta
voltar para casa
trancar a porta
e ficar pensando
em poemas
como esse,
no frio,
em algum lugar
para se aquecer,
em alguém
que devia esquecer,
na próxima tragédia
por acontecer,
nos planos
pensados
escritos
e abandonados
por medo
*
Distância
não é nada
além
de desconforto
dores, constantes
em partes do corpo
que não consigo alcançar
instantes, intermináveis
passaram tantos segundos
que desisti de contar
quanto passos
teria que caminhar
para chegar à tua casa,
quanto espaço
tu precisas
para não te sentires sufocada.
É uma lógica complicada,
se eu não te preencho
me sinto vazio,
mesmo carregando tanto
nas mesmas teclas
escrevendo mensagens
que não pretendo enviar
já não convido
mas tu sabes,
sou oco,
tem sempre um espaço para ti, em mim
*
Quase cheguei ao cúmulo
tentei dissolver meus sentimentos
em ácido sulfúrico
por não suportar
o odor pútrido
que emana
do túmulo
das minhas expectativas
enterradas
no espaço
que agora existe entre nós.
Minha angústia tem nome
mas ela não me responde
quando eu chamo
no meio da madrugada.
Era capaz de apostar
que ela descansa em paz
como se não tivesse remorsos
por me ajudar a carregar as pás
e a escavar esse poço.
Como se tivesse esquecido
quem foi que me deu a corda
que antes servia de elo
e agora
imagino em volta do meu pescoço
mesmo que minha garganta
já esteja atrofiada
por ter que conter palavras
que nunca tive a chance de dizer.
Mesmo que dissesse
ela não compreenderia
perdi a conta
das vezes
em que tentei chamar-lhe a razão
com palavras
cheguei a pensar
em acabar com um maço inteiro
para fazer sinal de fumaça
mas temo pelo meu peito frágil
mal aguentou os estilhaços
do meu coração se quebrando.
Harildo ferreira
Que poesias lindas as do Josemar. Gostei muito.