Quatro poemas de Maria Emanuelle Cardoso
Maria Emanuelle Cardoso é diaspórica, mulher, nascida na primavera dos anos 2000 em Montes Claros (MG). Tem textos publicados em antologias e revistas. Mãe de gatos frajolinha e rajados e de uma dálmata, ecossocialista, aprecia cinema e artes além de suco de uva gaseificado. Suas cores favoritas são o vinho e vermelho. Gosta de contemplar calangos.
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Ultramarino
como fazem os peixes para rezar nesse escuro todo?
o mesmo que acontece quando velhas estão as lâmpadas: cria-se luz nas têmporas.
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espero que tenha reparado na bagunça
uma namoradeira lambe apesar do pó a passagem dos seres:
passagem em vórtex de fim com presságio
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Algas Vermelhas
na primeira vez que entrei no rio
fechei os olhos e mergulhei profundamente
fiquei com gosto de areia e sangue na pele
passei então
a mergulhar como quem para a noite se despe
não completamente, apenas o suficiente
sabendo que tanto na noite quanto no rio
a Areia sempre vem
*
Cupuaçu & Pistache
escutar seus lábios de cântico no ar até caducarem minhas sobrancelhas. quero contigo criar uma arca de Noé com suculentas, cães e gatos (baratas e borboletas). dedilhar sem pressa seu couro cabeludo, como me ensinaram as libélulas. caipirinha de morangos frescos, brevidades com rapadura, cravo e canela para contar-me seu último sonho:
um cão filhote
caramelo ciclope
cavalgava entre os cumes
para então escutar os canários
e poder cair
consegue meu bem, tirar esse naufrágio das pálpebras? tudo é sorvete de peleja com calda de pavor. essa conversação entre a pirraça e a chantagem é mesmo uma chateação.
perdoe-me, tenho cáries nas íris. é tempo de sugar singela & suavemente o dedo da bruxa verde então isso: algum sono, algum sonho: você com uma piscina olímpica entre as pestanas é tempo de ficções convulsa: a carne é o que há de mais sagrado.
Marcela
Eu tenho alguns poemas.voce posta de outras pessoas?