Quatro poemas de Marina Grandolpho
Marina Grandolpho nasceu e vive no interior de SP. É formada em Letras e doutora em Estudos Literários, atuando como professora, pesquisadora e escritora. Possui textos em revistas, antologias, autopublicações e em sua newsletter, além de um livro publicado – maquinário feminino e outras conversas (Editora Patuá, 2023) é seu livro de estreia; e, em 2024, lançará seu segundo livro de poesia: a poeira da casa ainda dança.
Os poemas abaixo são inéditos.
***
não deu tempo
a ressaca acumulada nos poros
dilatados pelo tempo
a cabeça pesada na fronha
tramada por 180 fios
as louças lascadas
na beira da pia
lambuzada de resquícios
a disposição ausente
na borda do ser
esquecida num quintal
*
este lado para cima
no corredor do antigo apartamento
lábios se tocam pela centésima vez
enquanto
vinis são escolhidos com cuidado
apesar disso, não há som na vitrola
só uma luz quente os penetra
ao mesmo tempo em que
vigiam as taças de cristal
*
Negação
esbravejo em reação à faísca do astro
penetrando o tecido da cortina
quase branco em linho talvez algodão
um sussurro vaga pelas vias auditivas
acaricia e perscruta formas de seduzir
aperto contra o peito o travesseiro
maculado pela nódoa das noites-manhãs
bato o martelo acertando os ponteiros
: hoje não
*
facultativo
toda história de amor deve ser
um pouco política
eu por exemplo
não teria me casado com você
se tivesse votado naquele presidente
tampouco se me pedisse que
eu lavasse as suas cuecas
e mesmo que não me peça nada
de vez em quando me surpreendo
lavando as suas peças íntimas
na máquina antiga que seu pai
nos deu