Quatro poemas de Rafael Bessa
Rafael Bessa é um jovem negro, santo-estevense que iniciou sua trajetória no mundo em 1997. Pesquisador e Futuro professor de Geografia pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Rafael, no final de sua adolescência, encontrou na poesia uma forma de existir e experienciar o mundo. Mas foi nos anos iniciais da sua vida universitária que sua relação com a poesia se intensificou. Em 2018, com amigos, fundou o grupo “Válvula poética”, o qual promoveu algumas intervenções artísticas e o incentivo à escrita como válvula do mundo e para o mundo. Em 2021, teve algumas poesias publicadas na revista Ruído Manifesto. Atualmente tem a poesia, também, como meio de resistência, denúncia e disseminação da geografia com uma escrita geopoética.
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É isso
Desculpe, nega….
Blackfaces
Ocupam minhas vagas de Med
Talvez por isso, não sirva para curar suas feridas
Muito menos as minhas
Esse amor romântico
Fez medicina no Brasil
Por isso não sou provedor da cura
E dizem que sou o disseminador das doenças
Preto…
Mal…
Rude…
Agressivo…
Hipersexualizado …
Descarado/safado ….
Djonga já fala
Não passo segurança
Não sou sinto
É…
Não me espere pra te salvar
Ainda estou perdido
Detido
Com chicotadas que marcam minha existência
Pode esquecer
Não sei ser
O amor perfeito
Que vai comprir sua check list
Só posso te oferecer
Eu
Meu amor preto
Incerto
Infinito
Intenso
E que pra alguns causa medo
Mas é só meu amor
Amor de preto
*
Máscaras do teatro da vida
Tensões, padrões, menções.
Farsas.
Máscaras…
Dilaceram
(Me dilacero)
A própria carne.
Escupe,
E entalha as árvores de Vibranium,
Para o ganho,
Daqueles só ganham
Com a mutilação do meu ser.
A performance dos corpos
No palco dos interesses,
Encena a trágica morte em vida
Daquelas que performam.
*
Meus clássicos
Um dia me perguntaram, qual o meus autores favoritos?
É claro que disse que meus amigos
Mas na real
Gosto de ler pessoas
De ver a poesia dos sonhos nos versos
De sentir à visceralidade dos gritos
De vibrar na mesma intensidade das linhas
De me envolver nas rimas das dores e dos amores
Enfim
Pessoas são poesias
E eu gosto de poesias
Ainda mais da poesia de pessoas
*
Mais um
Mais um
Mais um que talvez seja envolvido
Mais um que talvez seja bandido
Mais um que provavelmente já estava f***
Mais um…
Mais um jovem corpo negro estendido
Quase que acredito
Com tantos pretos nos palcos, nos versos…
Quase que acredito
Que foi apenas um pesadelo a tal ideia do racismo reverso
Uma certeza
Que foi merecido
Jaz aqui um pedaço de mim
Por que a desumanização dos meus
Tornam vidas estatísticas
Faca na ferida
Bala na cabeça
Sociedade racista