Quatro poemas de Reynaldo Damazio
Reynaldo Damazio é formado em sociologia pela USP e trabalha como editor, oficineiro, resenhista de livros e coordenador de cultura em museu literário, entre outras atividades ligadas à escrita e à leitura. Publicou livros de poemas, traduções, anotações e ensaios, próprios e de terceiros. Foi colaborador de várias revistas e do guia mensal de livros da Folha de S. Paulo. Autor do recente trilhas, notas & outras tramas (Dobradura Editorial / Saracura Casa Editorial, 2018).
*
propor um cometa
no lugar da dissertação
de doutorado
ou o método de desviar
assuntos e a trajetória
de corpos humanos
despidos de vocábulos
e intenções
como simulacros
de partículas celestes
anotar a gratuidade
da cauda do cometa
a perfeição inútil
de sua órbita
o despropósito
de seu destino
um cometa flagrado
em desmazelo
sem nota de rodapé
ou referências
bibliográficas
*
com quantos
pontos se
desfaz a linha
entre uma
ponta e outra
do nosso
tempo se não
importa o
pouco se frio
ou febre
tanto espaço
nos limites
do que falta
de um
no outro
?
*
um dia
a gente ia ser o che
fazer a revolução e
morrer de ternura
depois
com o peso dos dias
quem sabe um whitman
ou poeta concreto
no vasto mundo abstrato
vida e morte severina
no fim
sem rima nem metro
talvez um fingidor
a gente passe em
brancas nuvens
entorpecendo manhãs
*
não sei o que ler nem o
que esperar
se suportarei a trava do
silêncio
desordem do instinto
a lifetime
rasuras no calendário da
mente
enguias na timeline
cicatrizes
abertas por lágrimas duras
portal de
museus imaginários onde
haicais
desarmam a teimosia do
poeta
medíocre mas senhor de
si
assim quando desanda o
papo
e o poema dá vexame
mas
você pode ainda varrer
a alma
e esperar que outros pés
toquem
suaves o seu coração
ou sair
pela rua suja de pânico
por aí
ivy MENON
Um prazer conhecer sua poesia, Reynaldo! belíssima!