Quatro poemas de Wendel Uchôa
Wendel Uchôa. Nascido sob a égide de Escorpião na cidade de Belém/PA quando era desativado o Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, sua mãe deu à luz enquanto o sol resplandecia em tom escarlate para alimentar a selva de concreto amazônica. Não existe alguma informação relevante sobre sua vida após esse fato.
Publicou pela Editora Folheando, o livro de poesia com o título Sol Taciturno, atualmente se dedica a fechar o ciclo solar com a segunda parte.
***
Afogue-me no êxtase
“This is the way the world ends
Not with a bang but a whimper.”
T.S. Eliot
I.
Infausta
manga putrefaz
com o clima
a irromper
da nascente
faustina
&
o manancial
se transforma
no sumo
escarlate
como pétalas
decaídas em
um temporal
II.
Minhas
tintas de
Rimbaud
colorem
de beijos
o meridiano
de sua rosa
fáustica
no veneno
que te decifra
ou me devora
sufoque-me
&
me afogue
no odor
escorrendo
lentamente
do seu caule
lívido durante
o envolvimento
que nos leva
rumo
ao mármore
final
set.MMXXI
*
Widernatürlichkeit
para Vanilson Fernandes
“Virtus in astra tendit,
in Mortem timor”
Vago igual uma estrela distante através
do céu na penumbra, em face do silêncio
como uma tela branca precisando ser
devorada. Meus olhos dentre os olhos
observam o escaravelho escuro recortado,
envolto em uma névoa num espaço enigmático.
A linguagem desse acaso liberado permanece
no desespero, enquanto caminho no vazio
de sombras vacilantes e sussurros alongados.
Até onde a estrela cai sem que alguém perceba?
*
O pálido juramento
O pássaro renasce com nosso
juramento nos poliedros
de Saturno
Onde o ideograma conduz o nosso transe
– na metáfora que se dissolve –
com o sonho ensanguentado das pétalas
durante a tempestade
que envolve nossa pele com
o frio orvalho do nascituro
Belém/PA – XI.jun.MMXXI
*
Visão de Orides
Lírios
selvagens dançam
no compasso
da
sinfonia
arquitetada
pela chuva,
construindo no prado
– o reflexo íntimo da
miragem (voraz
signo, fruto recôndito do viver).