Quatro poemas do livro “Palavras Diáfanas” de Diana Pilatti
Diana Pilatti é professora e poeta. Nasceu em Foz do Iguaçu/PR, mas mora em Campo Grande/MS desde a infância. Formada em Letras, pela Universidade Católica Dom Bosco, e Mestre em Estudos de Linguagens, pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Coorganizadora da Mostra Poetrix, edições 2020 e 2021, e autora dos livros Palavras Avulsas, volume 7 da I Coleção de Livros de Bolso do Mulherio das Letras (2019), Palavras Póstumas, volume 5 da II Coleção de Livros de Bolso do Mulherio das Letras (2020) e Palavras Diáfanas, Editora Patuá (2021). Publicou poemas em diversas coletâneas e revistas literárias. Divulga poesia em seu blog pessoal dianapilatti.blogspot.com e nas redes sociais @dianapilatti.
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Carta de fevereiro
ainda chove
querido amigo
*
na boca da tarde
memória-ferrugem
e um segredo de águas
ondula e consome
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Rêverie
Na cela da noite
te inventei
Cavaleiro da Lua.
*
era você
no jardim dos espelhos
segredando poesia
meu sonho-alice
*
e me sorria estrelas
num perfume opala
céu e precipício
cadente róseo
*
já passa das três
o silêncio distraído
me trouxe você…
noite insone
*
e me leu um poema
rosado
sussurro de auroras
e devaneio
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Artifícios do Silêncio
Ontem você me disse que os fogos não fazem mais barulho.
*
Como isso é possível?
Luzir tão intensamente vestindo só o silêncio?
Como é possível iluminar todos os horizontes,
ser noite faiscante,
sem alardear entre as nuvens?
*
Ontem você me disse
que os fogos
não fazem mais barulho.
*
Como poderia?
Subir ao céu,
alçar voo
prateando o manto retinto
sem retumbar pelas frestas do infinito?
*
Ontem
você disse
os fogos
não fazem barulho…
*
Qual ladainha, então
cantaria o velho mandarim
ao ver tão caladas estrelas fátuas
como lágrimas cadentes na face do tempo-despedida?
*
Ontem
você disse.
E o céu já não é o mesmo…
*
Então ficaremos a sós
eu você e a distância
versos silentes
na cintilância da palavra nestes olhos de constelações fugazes…
*
Na quietude da noite o coração corisca.
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Néon
às margens do Jarayes
colhia palavras silvestres
*
e nos versos líticos
polias a eternidade
*
no teu tempo-poeta
parietal e efêmero
minha própria essência
primata e lírica