Quatro prosas poéticas de Grazi Monteiro
Grazi Monteiro, estudante de 18 anos, original de São Gonçalo, Rio de janeiro. Começou a escrever sobre suas vivências em forma de poesia no início de 2023. Não escreve profissionalmente, apenas para se expressar.
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Lúcido delírio
Perdida no labirinto da minha mente, sinto que estou afundando em areia movediça. Encontro-me lançando moedas em um poço, desejando mais uma vez paz. Minha mente anseia pelo silêncio que só existe quando duas pessoas se entendem.
Costumava brilhar como o globo mais reluzente da discoteca, mas agora sou um milhão de cacos no chão da pista de dança, capazes de ferir qualquer pessoa que se aproxime. Querer sempre foi suficiente; para mim, viver pela esperança é o bastante.
Tenho tentado aprender a não ser gentil ao ponto de esquecer de ser inteligente, mas essa jornada me faz ficar mais velha sem necessariamente me tornar mais sábia. Minha reputação nunca esteve pior, tornando perigoso gostar de mim.
Sempre coleciono pedras sem saber o que se tornarão, chamando-me de louca e tornando-me cada vez mais desequilibrada. O que as pessoas pensariam disso se soubessem? Em minha defesa, não tenho defesa alguma.
Todas as adversidades me fizeram compreender que, se nunca sangrarmos, não amadureceremos. Às vezes me pergunto: “Se algo tivesse sido diferente, tudo seria distinto hoje?” Essa pergunta ecoa na minha mente como meteoros destruidores atingindo meu planeta.
Espero que, mesmo diante dos infortúnios da vida, meu sorriso continue brilhando. Mesmo que as estrelas desapareçam e o sol queime tudo cada vez mais rápido, e corações continuem se despedaçando nesse antro de desilusões.
*
Doce bárbaro
Manipulador nato,
Como pude me deixar levar por suas mentiras tão lindas mas tão vazias? Ouço todos os rumores que você sempre negou.
Você foi construindo uma torre de gravetos sem nem pensar que o vento poderia facilmente a derrubar num piscar de olhos.
Você era tão bom no que fazia que por um tempo me convenceu de que dois mais dois são cinco.
Eu te entreguei meu coração enquanto você ultrapassava os limites.
Você atirou uma pedra no peito de quem te amou, de quem te fez tão bem, feriu um amigo, perdeu um abrigo.
As ações que tomei, a maneira como me comportei, tudo isso para te chamar de meu.
Você não soube me amar, e agora isso o atormenta.
Você mentiu, mente e continua mentindo, e por mim, está tudo bem; você será sempre o seu maior arrependimento.
Você me fez parecer tão ingênua, fraca; nunca me levou a sério. Te digo que, de todas as coisas ruins que você fez, eu sou a pior delas.
Agora, você vive no país das maravilhas, e para sua surpresa, eu sou a rainha de copas.
Enquanto você me apunhalava pelas costas, eu tentava te abraçar, mas quem poderia me fazer enxergar que abraços em trampolins poderiam ser tão imprudentes?
Por que você me fez ter estrelas nos olhos para depois transformá-los em oceanos?
Há tantas perguntas que gostaria de fazer.
Meus olhos estavam fixados naquele cenário.
Eu tinha visão total enquanto você me enterrava, mas não fiz nada para impedi-lo.
Um coração partido, quatro mãos ensanguentadas.
Você se esqueceu que dinheiro não é o único preço a ser pago?
Se continuar perguntando se alguém o entende, saiba que eu não o entendo.
Seu carma é merecido e, meu amor, eu não sinto nada além do que você já imagina.
Você é viciado em errar e tornou-se irrelevante.
Se olhar para cima, verá o brilho de todos que você queimou para tentar chegar onde queria chegar.
Mesmo depois de tudo, sei que você não é mal; você só quer ser visto.
*
A metamorfose de uma lagarta azul para uma borboleta amarela
este senso de contentamento que todo mundo sente
simplesmente desaparece quando o sol se põe.
meu sonho adolescente percorre ardentemente
meus pensamentos me trazendo uma sensação
anestésica por um segundo.
abro meus olhos e enxergo a realidade.
andei relendo meus antigos escritos e lobriguei que
gritar os meus silêncios por eles já não é como antes.
não me sinto do mesmo jeito que me sentia no
inverno passado.
por incrível que pareça, o inverno desse ano não tem
sido ansioso e depressivo.
em dias maus, levantava e limpava a casa, só então
não precisava pensar em pensar.
se eu fosse meu coração preferiria ser suave como o
barulho dos pássaros pela manhã do que ser agitado
como ondas do mar em dias chuvosos na qual a maré
está alta.
me embriagando com desejos de uma vida leve e
fácil, deito sob a luz das estrelas ao som de Veloso e
descubro o preço da vida e esqueço a dor.
dor aquela que aprendemos a não sentir.
tenho encarado a estrada, afim de que ela deixe de
ser tão monstruosa como sempre se mostrou ser e
tem funcionado.
viver é bom e lidar com o futuro tem sido menos
doloroso, afinal, a chave do sucesso é arbitrária e eu
também.
estou deixando para trás aquela estranha e
confortável sensação de se parecer com insetos
rodeando uma lâmpada, sem enxergar que fora
daquela luz há um mundo de possibilidades.
hoje, posso dizer que maior que o privilégio de viver
é se sentir viva.
-o caos cessou
e irrelevante.
Se olhar para cima, verá o brilho de todos que você queimou para tentar chegar onde queria chegar.
Mesmo depois de tudo, sei que você não é mal; você só quer ser visto.
*
Fera Ferida
A vida me lembra alguns advérbios de intensidade – muito,
bastante, pouco, demais. Eu tenho pavor de não
entenderem o que digo nas palavras emboladas, pois falo
demais. Quando falo de menos, esse silêncio é
interpretado maior do que é. A vida, essa montanha-russa
efêmera, sempre é muito, bastante, pouco, demais pra
eles.
Muitos destacam o muito, mas esquecem que o pouco
também necessita atenção. O pouco que eu costumava
sentir era, na verdade, o muito que deveria estar ali. Pouco
te interessam meus poucos, e se interessam, é porque te
afeta. Sempre acreditei que seria boao suficiente
explicando tudo com muito pouco, apesar de achar que
palavras são necessárias. Geralmente, as pessoas não
gostam de me escutar falar.
Não gosto de quem espera muito, mesmo eu me dando
bastante. Não suporto quem me cobra muito e nada faz.
Aliás, o que é o nada senão uma palavra esperando ser
traduzida? Já pensaram em quantas palavras estão
esperando uma tradução sincera até agora?
Costumo pensar que talvez o erro esteja em minha
confusão, em meu caos interior rebelde que, de vez em
quando, cisma em saltar para fora de mim, sendo quase
impossível controlá-lo. Minha maior tragédia é não saber o
que fazer com a vida. Viver é difícil, mas certa vez li uma
frase de Virginia Woolf que dizia que não encontramos paz
evitando a vida; ou seja, preciso continuar.
Me perdoem por ser sempre tão demais, pois pessoas
medianas tentam me reduzir para me tornar pequena,
mínima, minúscula. Não sou muito, mas também não sou
pouco. Acredito estar na lista de pequenas grandes
pessoas que amam além do que cabe no peito. Tenho dó de
mim e dessas pessoas. Elas sim sofrem demais,
extraordinariamente demais, e suavemente o demais me
atinge outra vez.