Quinze micropoemas de Marcos Marcelo Lírio
Marcos Marcelo Lírio é natural de Vitória -ES. Reside em Jardim Limoeiro, município de Serra- ES. É formado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), possui mestrado em Ensino da Educação Básica (UFES). Atualmente é professor (Arte) da Rede Municipal de ensino de Cariacica, também atua como psicanalista. É Poeta contista.
Dentre seus trabalhos mais conhecidos estão: Lençol de ilusão, (poesia, 2012), Lei de incentivo da Serra Chico Prego; Palavra é Arte (poesia, 2017), publicação coletiva; Suavidade Sob Pressão (poesia, 2020), autopublicação; e Delírios e tarja preta para desavisados (contos, 2022), autopublicação.
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perdoe-me pardal
a pedra era para o inimigo
sei que nunca mais conseguirei fazer voar minhas desculpas
é que minhas mãos de gaiola desconhecem a liberdade
perdoe-me pardal
*
salivo por coisas que não posso comer com os olhos
respiro fumaça de meus próprios incêndios
meus rastros têm suas próprias histórias
só sigo estranhos porque não me conheço o suficiente
*
não vou sair de casa para
me banhar num mar de gente deserta
*
duas da manhã
eu sentado no sofá
observando isca de silêncio
pescar pensamentos graúdos
mesmo sabendo que o dia seguinte seria de tubarões
*
por precaução
retirei as pilhas do relógio
acordei o tempo lá fora
deixei meus chinelos em casa
hoje quero deixar rastros
nos quintais baldios do mundo
*
se for o caso mande flores à vácuo
e um adeus descalço
*
às vezes arrasto coisas pela casa
como se quisesse ouvir reclamações das
cadeiras
mesa
chinelo
o silêncio jurou me despejar
*
levantar voo é necessário
deixar o corpo-a-corpo para trás
sentir redemoinhos de perfumes à distância
pousar a imaginação
onde se pode plainar
*
Papel de pão
é uma dessas coisas
onde aceitamos a escrever a nossa própria fome
por favor
café para dois
*
eu disse que não iria
fui embora
calcei raiva no pé errado
voltei mancando
*
em casa frito silêncio
gosto quando ele fica bem passado
o cheiro se espalha pela casa inteira
*
à beira-mar os meus olhos espremem sal na paisagem
doce mesmo é a ingenuidade dos peixes afogados na areia
*
sai de casa para comprar fósforo
voltei com a cabeça incendiada de preocupações
mas certo de que não tenho vocação para Nero
*
pratos sujos em cima da pia
roupa amarrotada no corpo
meia dúzia de palavras pedindo opinião ao pensamento
talvez eu não volte
*
escrever é talhar as palavras à mão
depois fazê-las voar
George Cardoso
Os poemas são muito percucientes. Me fizeram lembrar de Clarice e de Caio Fernando Abreu.Tem densidade e pulsam !Parabéns!
Marcos Marcelo Lírio
obrigado.