Cinco poemas de Roger Willian
Roger Willian, nascido em Ribeirão Pires, em 1986, se enveredou por todo tipo de arte. Fez curso de desenho, teve bandas de garagem, estudou história da arte, formou-se em design gráfico e trabalhou em instituições culturais. Atualmente, além de se dedicar ao estudo das Ciências Sociais, está vivenciando a passagem da experiência de leitor compulsivo a aventura de se tornar escritor impulsivo. Recentemente lançou seu primeiro livro de poesia, Pirilampo pela editora Algaroba.
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Les Deux Magots – Os dois Beatos
Sob acetinado céu
de camadas e véus
Dois homens se amam
Paira em jazz a beatitude
Libertina plenitude
Semeando
como dente-de-leão que dança ao vento
Espanto e encantamento
*
Pão Francês
Lembro de você sentar comigo independente do
balcão
e nem ligar… mas adorar
por ter pedido dois cafés e um pão
Desde então
é bom caminhar
sabendo que quem está ao lado
sabe que chique é a riqueza do olhar
que vê a forma de um coração
na casquinha dourada do pão
e sorri…
*
Noticioso
Em meio a calamidades triunfais
Ansiamos, apaixonados
Eufóricos e excitados
O próximo iphone de 5 mil reais
Ante a penúria incalculável
Assistimos luxuriados
a soberba de um multimilionário
Jogando carro ao espaço
No rapel da rede social
Nas redes de telejornal
O rosto negro é marginal
Morre só mais um herói real
Ninguém nota
Ninguém vê
Em suas telas celas
hipnotizados com a data da estreia de heróis
ficcionais
só mais um dia de eventos banais
Mediante a intervenção de fardados
transformando em fadados
Exilados
os destinos da Maré e outros bairros
Covardia de um governo desgovernado
Os novos muros cabem nas mãos
Tá decretado o fim do horizonte
Não só do belo rinoceronte que jaz tranquilo sobre
pesares virtuais
Essas e outras notícias
na ressaca
de sua ópiosérie favorita.
*
Canto de olho
Tudo que sei
Sei de canto de olho
a verdade é fugaz
Vultos que habitam dimensões
enjauladas por entre os códigos de barra
*
Vou te contar um segredo…
Quando criança
Eu torcia para que a luz da cidade acabasse
Pois só assim se revelava a verdadeira paisagem
O jazz espontâneo da natureza
sob o baile dos pirilampos em sua ambição de estrela.