Sátira de Glória Groove – Por Aline Pereira Lourenço
Aline Pereira Lourenço, formada em Letras Português e Literatura pela Faculdades Integradas Simonsen, é professora do município de Itaguaí (RJ) e está concluindo a especialização em Língua Portuguesa pela Faculdade São Luiz. Participou da montagem do Referencial Curricular da Prefeitura de Itaguaí. Escreveu 12 antologias, que incluem poemas, crônicas e contos. Para revista Conexão Literatura, escreveu três resenhas e à revista Literabooks, escreveu uma crônica. Faz parte do coletivo Rainhas Negras, onde lançou, em uma antologia, um conto homenageando Elza Soares, e no dia 01 de setembro estará na Bienal do Rio com tarde de autógrafo da antologia Filhos da Terra. Ganhou o Prêmio Polímata de Literatura pela Academia Independente de Letras de Pernambuco.
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Sátira de Glória Groove
Respeitável público Um show tão maluco, essa noite, vai acontecer aqui A gente vai armar um circo, um drama com perigo E nessa corda bamba, quem vai caminhar sou eu E venha ver os deslizes que vou cometer E venha ver os amigos que eu vou perder Não tô cobrando entrada, vem ver o show na faixa Hoje tem open bar pra ver minha desgraça Extra, extra! Não fique de fora dessa Garanta seu ingresso pra me ver fazendo merda Extra, extra! Logo logo o show começa Melhor do que a subida só mesmo assistir a queda Na, na Na, na-na, na Na, na-na, na Na, na, na Na, na-na, na-na, na Na, na-na, na Na, na-na, na Na, na, na Na, na-na, na-na, na Então pode pá, ra, tá, tá, tá Podem tentar, mas não vão me pegar Terror nenhum, dum, dum, dum, dum Com meu poder, derrubei um por um Vivem fazendo de tudo pra te atingir Eles agem como animais Curiosidade matou o gatinho Mas essa gatona tá viva demais Daqui do alto, não tô te escutando Cê vai falando, eu vou faturando Sei que cê gosta de ouvir os aplauso Mas gosta muito mais de me ver sangrando A carapuça serviu Cadê você? Ninguém viu! Tô dominando o Brasil (A pa puta que pariu) E venha ver os deslizes que vou cometer E venha ver os amigos que eu vou perder Não tô cobrando entrada, vem ver o show na faixa Hoje tem open bar pra ver minha desgraça Extra, extra! Não fique de fora dessa Garanta seu ingresso pra me ver fazendo merda Extra, extra! Logo logo o show começa Melhor do que a subida só mesmo assistir a queda Na, na Na, na-na, na Na, na-na, na Na, na, na Na, na-na, na-na, na
Glória Groove, cantora do momento, lança uma letra de música que traz como elemento principal a sátira, um estilo escrito pelas cantigas da antiguidade clássica que surgiu na Grécia, ainda no teatro grego com gênero comédia. Os gregos usavam a comédia para representar costumes, hábitos do povo de forma cômica, com objetivo de criticar o comportamento alheio. Gênero também já era exposto na Pré-história através das figuras rupestres. Na Idade Média, ela difunde nas poesias de escárnio e maldizer pelos trovadores da época e de forma oral. Eles a usavam para apresentar uma crítica aos costumes, hábitos e pessoas importantes da sociedade. Glória Groove retoma essa característica na letra e no clipe do início ao fim. “A queda” retrata o que atualmente estamos vivendo nas redes sociais. Um público que muito opina e até julga o comportamento alheio, tendo como poder o “cancelamento” à pessoa que fez algo ou falou aquilo que o “respeitável público” não tenha aprovado. Glória faz um convite a estes para assistirem um grande espetáculo, uma espécie de um “circo de horrores” onde o público poderá ver 4 piores atos para queda de alguém: provocação, exposição, perseguição e linchamento.
Provocação, exposição, perseguição e linchamento
O ato de provocar faz parte da sátira, pois o gênero precisa chamar atenção do público. A letra começa com ironia ao chamar o público de “respeitável”, na verdade, este não tem nada de respeitável, já que mesmo faz o contrário quando expõe de forma violenta a pessoa pública, quando esta faz um comentário que este público discorda. Em seguida temos, “Um show tão maluco, essa noite, vai acontecer aqui/A gente vai armar um circo, um drama com perigo/E nessa corda bamba, quem vai caminhar sou eu” trecho onde Glória faz uma introdução para algo que este público vai assistir. Ela se põe a ser a personagem principal para tal espetáculo. Logo, ela faz o convite “E venha ver os deslizes que vou cometer/E venha ver os amigos que eu vou perder/Não tô cobrando entrada, vem ver o show na faixa/Hoje tem open bar pra ver minha desgraça”. A mesma logo faz a propaganda daquilo que do show que o público assistirá, que será as merdas feitas por ela, ou seja, a sua queda. E, ainda afirma que é melhor do que vê-la no sucesso.
Entretanto, ela dá volta por cima “Podem tentar, mas não vão me pegar/Terror nenhum, dum, dum, dum, dum/Com meu poder, derrubei um por um”, Glória mostra o contrário do que disse anteriormente, mostra todo seu sucesso, derrubando o público que esperavam ver sua derrota. E complementa jogando na cara destes tudo aquilo que fazem: ” tentam me atingir”, ” agem como animais”. E num momento de “glória”, ela expressa que está por cima e este público em baixo. Ela está tão alta que nem escuta este público. Diretamente diz: ” cê gosta de ouvir aplausos, mas gosta muito mais de me vê sangrando” e termina perguntando a estes: ” A carapuça serviu?” finaliza dizendo que ela domina o Brasil e o público continua invisível, manda todos aqueles que assistem o seu mal para “p.q.p”!