Seis poemas de Ana Luz
Ana Luz (Vitória da Conquista, 1989). Escritora, tradutora de italiano e inglês. Autora dos livros “Poeta em Pânico” (Letramento, 2020), “Fragmentos” (Penalux, 2021) e “Quadras” (Folheando, 2023). Participação em diversas antologias poéticas, das quais destaca “Prenúncio de parábolas invisíveis” (Memoralia, 2021).
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Metas
Substituir a lenta sanha
por perdão ligeiro, por exemplo.
Deixar a cera se fixar no ouvido
a contento, sem inventar de futucar.
Extirpar a centelha de fogo
que ninguém nunca prometeu.
Não deixar que se meça mais nada –
Mandar caçar o mandato das fitas métricas.
*
Pulsante
Apanhei solfejos bemóis
na terra recém arada.
Na medição de melodias,
auferi três ou quatro chiados.
A frequência sedenta
(carrapato língua)
pende na ponta da folha.
Trago as veias abertas,
tomo assento à relva.
Ouço o pulsar de quase todos os plasmas.
*
Manhã
Silêncio grávido de conforto,
tão simples quanto composto.
A antiguidade da fé, o hábito de fé
(e sua devastadora inevitabilidade).
*
Anotações
Para Lúcia Castello Branco
Curto-circuito:
Lugar comum
Onde eu era,
Vocês são
Fade in
Eles contam, da diz-mensão,
Estórias para boi acordar
Por um lapso,
Arranhar a exegese do erro perpétuo
Burn out
Esse inconsciente sofista
Nunca cessa de tergiversar
*
Medida
Se o homem for a régua
de todas as coisas,
a mulher é o milímetro.
*
Fora com as ampulhetas
É dever nosso
não desviar a face da morte,
dar conta de desviar a rota
do pretendente efêmero.
É tarefa nossa
não aceitar a pressa.
Bater os cílios, languidamente,
Até que se reinvente o tempo.