Seis poemas de Carolina Schettini
Carolina Schettini é mineira e mora no cerrado. Escreve romances, mas adora aventurar-se por todos os outros gêneros literários. Foi finalista no prêmio off-flip com a poesia João. Está no Instagram @voandovou.com.br onde publica textos e conversa com os leitores.
***
Obediência
Mandou
eu cortar o cabelo.
Não gosto.
Mas, corto.
Mandou
eu usar batom vermelho.
Não quero.
Mas, uso.
Mandou
eu cozinhar arroz com feijão.
Não como.
Mas, cozinho.
Mandou
eu cheirar perfume barato.
Não perfumo.
Mas, cheiro.
Mandou
eu guardar meus enfeites.
Não olho.
Mas, guardo.
Mandou
eu servir gelo no whisky.
Não bebo.
Mas, sirvo.
Mandou
eu ler panfletos políticos.
Não suporto.
Mas, leio.
Mandou
eu cuidar de mim.
Não amo.
Mas, consigo.
*
Nada e Amor
Um dia, sinto sede e não tem água.
Cavo poço. Nada.
Outro dia, quero ler e não sei palavras.
Abro livro. Nada.
Um dia, tento rir e não acho graça.
Cadê as piadas? Nada.
Outro dia, procuro o passado.
Nem lembranças. Nem falhas. Nada.
Sou deserto. Não sei nada.
Só tenho amor. E amor é oásis.
*
Feito à mão
Feito à mão
O olho roxo no rosto da moça
O vidro da janela espatifado
A planta arrancada pela raiz
Cortou as fotos
Deletou o número
Apagou recados
Rasgou bilhetes
Trocou o cabelo
Quebrou o silêncio
Tudo isso feito à mão
*
Ouvido em pé
Tic Tac
O relógio bate
Toc toc
Bate na porta
Tim Tim
Taça na taça
Pingue, conversa vai
Pongue, conversa vem
Trim trim
Telefone toca
Snif Snif
Choro em volta
Bam! Bum!
Foi um tiro!
Tum Tum
No coração
*
um copo
um
copo
cheio
naufraga
o
pessimista
um
copo
cheio
navega
o
otimista
*
Como você anda?
Se ando para frente, sucesso
Se ando para trás, abscesso
Se ando para cima, voo
Se ando para baixo, atordoo
Se ando rápido, cansaço
Se ando devagar, mormaço
Se ando com gente boa, festa
Se ando com gente à toa, funesta
Se ando bem de saúde, embarco
Se ando mal do coração, infarto
Se ando a pé, ramalhete
Se ando de ônibus, bilhete
Se quero sentido na vida,
ando logo com isso
A vida anda sem parar,
não adianta jogar feitiço!