Seis poemas de Gilmara Santos
Olá, meu nome é Gilmara Oliveira dos Santos. Tenho 23 anos, sou estudante da UEFS e curso Letras Vernáculas, sou natural de Feira de Santana – BA. Então, comecei a escrever por uma necessidade de colocar para fora as palavras que me machucavam. Sou apaixonada pela escrita profunda e reflexiva da escritora Clarice Lispector e a tenho como uma das minhas inspirações. Portanto, espero muito que as minhas palavras lançadas em forma de poemas, alcancem a mente e o coração dos leitores.
***
Quando Criança
Nasce mais uma criança em um mundo
de humanos e desumanos.
A criança ouvia que as pessoas
determinavam cores e raças.
Mas, não imaginava
que sua cor fazia dela uma sem alma.
Não entendia essa frase.
Verbalizada pelos homens que escravizaram nações.
E com seus cálculos errados, atingiram
uma conclusão de uma invenção que nem eles
mesmos acreditavam.
Ensinam a amar um padrão que a criança não
conseguia enxergar, pois ela amava
o que gostaria de amar
e não o que os outros determinavam.
A criança sentia medo, um medo bom, mas
ao mesmo tempo era ruim, pois, entendia que nunca mais,
acharia a saída desta rebelião.
Estava presa em uma bolha chamada racismo,
onde não entedia o
porquê, o outro, de pele branca, tentava sufocá-la
a todo custo.
Eles tinham sangue, assim como a criança, que
com sua ingenuidade
não encontrava essa diferença exacerbada.
Não queria acreditar nessa bagunça que encontrou
neste mundo colorido
que queria voar, mas que ao mesmo tempo cortava suas próprias asas.
*
Outras Partes
Quando abri os olhos para sentir,
encontrei um abismo entre o abrir e fechar.
Tentei entender, mas, só existia uma súbita epifania,
era o encontro da solidão com a solitude.
O assombro do “eu” com as outras faces de mim.
A solitude me levou para outro plano: o
da reflexão, autoconhecimento e postura.
No entanto, a solidão queria a todo custo roubar
o momento Epifânio.
Não demorou para surgir uma batalha
entre as partes que coexistem, era uma
luta que não acabará tão cedo, pois
somos seres singulares e múltiplos.
*
O Desconhecido
Paz , tranquilidade
Achei-me no meio
No meio de muitos
Abstrato e tangível
Tudo ao mesmo tempo
Foi uma escolha
Precisava decidir
E fui com medo
Mas acredito no risco
Arrisca-se é natural
Profundo e consequente
A consequência de escolher
Possivelmente é possível
O impossível não existe
Laços de presentes não vistos
Lágrimas nos olhos
Emoção explícita
Isso foi a causa
Letra por letra, acabou
Surgiu um novo
Começou outra vez
*
Quero ser
O pássaro passou no céu
O pássaro de asas abertas
O pássaro passeando pelo azul
O pássaro livre da gaiola
O pássaro distante da mentira
O pássaro que não pensa
O pássaro que não era
O pássaro sem paragem
O pássaro sem cobiça
O pássaro sem bagagem
O pássaro alvo
O pássaro Preto
O pássaro aborígene
O pássaro que anda em bando
O pássaro que eu quero ser.
*
Paralelo
A posição do ser em um momento delicado e estranho.
Uma epifania, uma aventura no meio do mar.
Comparo o mundo a um oceano repleto de peixes de todas as espécies, todas as cores, de todas as posições, de todos tamanhos.
Assim estão os seres racionais.
Que diferentes dos peixes, são decadentes, ignorantes, desumanos, preconceituosos, desonestos, preguiçosos, ambiciosos….
*
Vocábulos
Palavras ditas,
transcritas , lançadas ou
forçadas.
Provoca espanto, repulsa,
indignidade e humildade.
Prevalece, tira a prevalência.
Chega ou atrasa a compreensão.
Provoca, recalca.
Tornar-se em alteridade ou egoísmo.
A palavra é uma flecha, uma navalha, uma arma, uma carícia… depende, sempre depende…