Seis poemas de Guilherme de Andrade
Guilherme de Andrade é poeta e autor do livro de poesia Canto do Povo, Raízes de Liberdade (Editora Merda na Mão, 2021). Nasceu em Santo André -SP em 02 de abril de 1997. Estuda Letras na Universidade Estácio de Sá. Já teve poemas publicados nas revistas literárias Despacho e Squatters.
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Poema de Guerra
Meu poema
É como o samba
Guiado pelo batuque
Sem medo do despejo
Meu poema
Abençoado pelos orixás
Vai subindo o morro
Sempre a conversar com o povo
Meu poema
Não teme a bala perdida
Nem o camburão
O poema carrega a força de uma multidão
Meu poema
Vem como um gemido
Gritando durante a guerra
Para um dia poder cantar durante a paz
*
Poema Popular
O poema encosta devagar
Na humildade,
Pede licença para chegar
Senta na roda e começa a recitar:
Poesia tem que ser popular,
Tem que jogar capoeira,
Cantar samba e dançar no carnaval,
Poesia tem que estar no sarau
Para toda a quebrada.
Poesia é a busca da liberdade
Através dos versos.
Quando não há poesia
O peso do mundo arde nas costas
E desnutri a alma.
Poesia quando feita de coração
Abre o sorriso amarelado para o mundo
Porque através dela vem uma felicidade,
Ainda que momentânea.
Poesia ameniza o suor
Que se derrama todos os dias
Dos rostos dos trabalhadores.
Poesia é a voz do povo e,
Quando essa voz escreve
Conta em suas linhas a história do Brasil.
*
Mar de Lágrimas
Hoje a favela chora.
Pelos rostos aflitos
As lágrimas escorrem
Sem nunca cessar…
Lágrimas que vão
Lavando os becos e vielas
O jardim da juventude
Está se tornando escasso por aqui.
Hoje, sem pudor a favela chora
O mar de lágrimas corre
Pela cidade inteira,
Clamando – Parem de nos matar.
*
Amor e revolução
Cante comigo, amor
Uma antiga canção
Que atravessa as fronteiras
E une todos os povos
Cante comigo, amor
Essa canção de
Bandeiras negras
E vermelhas
Cante comigo, amor
E com toda a multidão
Essa canção que exalta
As cores da revolução.
*
Tráfico de palavras
Se arme de um livro
Não qualquer livro
Apenas aqueles escritos
Pelos nossos, pelo povo
Roube com esse livro
Todas ideias literárias
Toma de assalto toda poesia
Sem medo de ser denunciado
Trafique essa arma
Por toda sua quebrada
Favelado com conhecimento
É sistema abalado.
*
Homenagem a Favela
Eu canto para a Favela
Lugar que me acolheu
Acolheu meus pais e
Tantos, tantos outros…
Eu canto a este lugar
Onde vivem todos
Que levantaram a cidade
Que a fazem funcionar
Canto ao reduto do Brasil
Fortaleza retinta
Resistência proletária
População consagrada
Canto para a Favela
Casa dos orixás
Morada dos poetas
Berço do carnaval
Canto para a Favela
Mãe de todos os pobres
Porém, muito perseguida
Terra marginalizada
Canto para a favela
Sempre cantarei
Como nas poesias épicas
Meus versos vivem em batalhas
Canto para a favela
Lugar que derrama pranto
É um bocado de dificuldade
Que nem sempre se dá para sorrir
Meu canto é de libertação
Zumbi, Solano Trindade
Clementina de Jesus, Dina Di
Também o fizeram
Canto para a Favela
Lugar que me apresentou a saudade
De quem já não está mais entre nós
Pessoas que fazem muita falta
Canto numa roda de jongo
Canto numa roda de samba
Canto numa roda de capoeira
Canto numa roda de macumba
Canto para a Favela
Quando estou no churrasco de laje
Vendo as crianças brincando pelas vielas
Momentos tão únicos…
Canto para a Favela
Sem medo do opressor
Porque eu sei que aqui
É morada de um povo forte
Canto para a Favela
Mesmo quando choro
Nesse caso,
Eu solto um imenso lamento
Canto para a Favela
Paisagem mais alta
Vista mais linda
Estamos sempre pertinho do céu
Canto para a Favela
As mães solteiras
Aos moradores de rua
Aos desiludidos com a vida
Canto para a Favela
Enquanto eu viver
Nunca me cansarei de cantar
Verdadeira mãe solo gentil
Quando a Favela canta
Não há quem não se emocione
Aí, meu irmão, é vida dura
Realidade pura
Quando a periferia solta a voz
Vem a história do Brasil inteiro
Dos navios negreiros
Aos retirantes nordestinos
Quando a música da favela ecoa
É canção de resistência
Precisa guardá-la no fundo do peito
Deixar a música te consolar
A favela sempre canta
Em direção a liberdade
Sem nada a temer
A favela segue em direção da paz.