Seis poemas de Larissa Marques
LARISSA RIBEIRO MARQUES (1997) nascida às margens das águas do Rio Paraguaçu, em Cachoeira-Bahia. Acalentada pelos raios, se coloca no mundo a devir afetos! Atua como multiartista, tradutora, redatora e professora. Atualmente, mestranda em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Graduada em Letras com Francês também pela UEFS.
Instagram: @larissarimax
Email: larissarimax@gmail.com
***
O tempo lambeu os pés
na hora sentiu
a força do querer verão.
Temporada de nudez
há quem tenha medo
há quem ame desnudar.
Eu prefiro nua
entregue a tempo.
*
CORTEI ROTAS
Na esfera emblemática do ser
cortei caminhos distintos,
tracei cortejos fúnebres,
acertei na criação de rotas.
Não aceitei mapas
apenas andei.
diga-se de passagem
passagem
comprei ainda ontem na trilha para cachoeira.
Hei de desaguar.
*
PULSÃO DE MORTE
No âmago do Paraguaçu
lasquei ventre sombrio
dilacerei poros infelizes.
Eis-me aqui!
Cada epífora nutriu o agora
subúmido de um trânsito sintomático
afetuasse angústia na escrita de si.
Excelência l’avenir.
*
INFILTRAÇÃO I
Não consigo ver os afetos
sem as águas barrosas
que infiltraram meus solos
não tão férteis
Quando escrevo é para dizer
das descamações do endométrio.
Útero inteiro em pulsão
expulsão do que não vingou
Deixa ir.
*
ENERGIA CINÉTICA
Vilã de mim
ostensivo corpo na angústia
crivada na alma de vidro.
Há sempre um desmolde
-Devir-amor.
quantas de mim gritaram em ti?
Dilacerei pedras do cavalo
cinco comportas abertas
Ouviu-se falar:
virou água
diluiu- se oceano.
*
MELODIA
Cercaram minhas canções em uma vitrola velha
tanta poeira não deixava a agulha deslizar no disco.
Troquei instrumentos
aumentei as escutas
semifusas afetuosa
em meus ouvidos atentos.