Sete poemas de Adriano Wintter
Adriano Wintter (1971), poeta e tradutor, nasceu e reside em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. É autor das coletâneas: A Busca da Luz (1991–1992), Luz Léxica (1993–1995), Apotheosis (1996), Polimusa (2010), Mero Verbo (2010), Porto Alegre Desolada (2011), Clara Mimese (2012), O Ciclo do Amor Recomeça (2013), Ágrafo (2014), O Plectro & as Horas (2015), Quórum da Luz (2016), Sob o Baque do Belo (2017–2021) e Totelimúndi (2022). Participou da antologia Escriptonita (Patuá, 2015). Traduzido ao inglês, espanhol e catalão, tem poemas publicados nas revistas internacionais: sèrieAlfa (Espanha), Triplov, Caliban, Devir e Linguará (Portugal), Separata (México), Cinosargo (Chile) e Experimenta (Argentina); além das publicações nacionais: Revista da Academia Brasileira de Letras (R. B., nº. 82 e nº. 96), Suplemento Literário de Minas Gerais, Sibila, Eutomia — Revista do Departamento de Letras da UFPE, 7Faces, Babel, Ellenismos, Mallarmargens e Correio das Artes; nos jornais Relevo e Poesia Viva. Traduziu, entre outros: José Kozer (Cuba), Victor Sosa (Uruguai), Fernando Bensusan (Espanha) e Alfredo Fressia (Uruguai). SUMA LÚCIDA / Poesia Reunida (1991-2022), editora Patuá, com seus 13 livros inéditos, pode ser adquirida no link: clique aqui
***
sabedoria
o amor
é o miolo
do magma
o território livre
onde a luz
foi finalmente vingada
e a verdade
acolhida
o amor
é a deslumbrante
revanche do homem
contra a noite
e o nada
(A Busca da Luz / 1991-1992)
*
felicidade
vem primeiro a sensação do fogo
depois o sonho
se alooooooonga
e chegam os deuses
vem o magistério da febre
e o músculo
fabuloso que leciona
o sentido da vida
e o movimento do mundo
aos que se inclinam
para o fim
leciona
aos que têm ódio do sol
com sua boca de fezes
e inferno
com suas verdes
veias em relevo
na ossatura anoréxica
vem o barco
ébrio com a bússola
de luz que vasculha
o caos — e para
sobre o norte
áureo
dos teus olhos negros
(Luz Léxica / 1993-1995)
*
almásculo
sou este homem forte
que sobreviveu ao êxtase
e ao fracasso
sou este espírito atlético
capaz de suportar
os 12 trabalhos de Hércules
venci ases da guerra
depus mestres
da morte
dia
após dia
eu bebi a dor:
meu elixir
(Porto Alegre Desolada / 2011)
*
colheita
o amor
bate na luz
bate
puro
no caule
robusto do lume
bate
dentro
da árvore
solar
com sua lâmina
cúmplice
bate
com o aço
do sexo
com o claro
gume do elo
com os machados
eternos
ele vem
e bate
de novo
fazendo tremer
o fruto do fogo
que cai no ser
e rompe a polpa
rara do sumo
que os sonhos
sugam
(O Ciclo do Amor Recomeça / 2013)
*
taumaturgia
útero
do futuro
o fracasso
expecta
que
sua lenta
espiral
envolva o colapso
filetes
de tempo
tecem
uma placenta
épica
células
de pesar apertam
e glóbulos
de agrura purgam
para que
no lúcido
novelo
da luta
dilua-se a dura
noite da perda
ou a morte
cerebral da beleza
e sob o sumo
amniótico da cura
um sol bem robusto
infle triunfos
no horizonte da medula
(O Plectro & as Horas / 2014)
*
esfeérico
os grandes globos da beleza
rodando
seus arcos
áureos
que o corpo cria
quando
sob certos ângulos
de luz
e o sonho
suspende
acima
do que compõe
a noite
venha esse
artífice
feixe
da ausência
ou seja
simplesmente
fruto do êxtase
os grandes globos da beleza
rodando
em chamas
dentro
do meu crânio
como roda
a ideia de Deus
na mente
maravilhada
de um anjo
(Ágrafo / 2015)
*
revés da vida
após uma tarde
escaldante
a tempestade
bate
no basalto
desintegrando
as chamas
do verão
saio
da guarita
aspirando
o aroma
que os pingos
levantam
e medito
sobre o horror
tirânico
que um homem
suplanta
e dissipa
no torvo
orco
da vida
chegando
enfim
(com esforço)
ao merecido
sopro
do alívio
(Sob o Baque do Belo / 2017-2021)
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