Sete poemas de Frederico Dantas Vieira
Frederico Dantas Vieira, sergipano da cidade de Aracaju, conhecido no meio literário como Fred Dantas é psicólogo, poeta e escritor, autor dos livros de poesias: “Paródia do amor na poesia esquecida” (2002) “Liberdades Pretéritas”(2018), “Palavras Nômades: poesias e contos”(2020) lançado no Brasil e em Portugal,”Poemas de sobre(voo) e outros desmoronamentos”(2022) e “Infinitivos: poesias e contos” (2023).
Participou de diversas antologias poéticas no Brasil e em Portugal. É representante do Estado de Sergipe no grupo de Coordenadores da Antologia “Ecos do Nordeste “ pela Editora Luso-Brasileira, Infinita.
É membro do coletivo artístico-literário Café Poético Sergipano e membro correspondente da Academia Cristinapolitana de Letras e Humanidades (ACLH), membro fundador da Academia Literocultural de Sergipe (ALCS), membro da Academia Municipalista de Sergipe (AMS) e da Academia Internacional de Literatura e Artes Poetas Além do Tempo (AILAP).
Foi vencedor do Concurso Literário promovido pelo Coletivo Café Poético e Filosófico da cidade de Pão de Açúcar- AL, no ano de 2020 na categoria “Contista” com o conto “O presente de Luísa”. Foi vencedor na categoria “Poeta Revelação” no Prêmio Café Poético Sergipano, no ano de 2020. Foi também selecionado em 2020 no “Concurso Nacional Jovens Poetas” estando entre os 100 melhores poetas do Brasil naquele ano com o poema intitulado “vamos comprar um poeta?”.
Recebeu o prêmio de destaque como poeta e escritor no Prêmio Literatura 2022 e 2023 e também como poeta e escritor no Prêmio Oxente 2022 e 2023 promovidos pela Produtora Cultural Olho Mágico.
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Confrontando o agora
Quando a verdade faz o medo gritar,
a dúvida enche o peito e arrebata
o desconhecido faz o novo se mostrar
e o anseio arde e maltrata.
Nebuloso é o agora desses dias
estranho e taciturno vem me visitar
na visão desse receio em agonia
cobre meus olhos no que não se quer acreditar.
O silêncio é cruel companhia
e a poesia minha linha de fuga.
O tempo, algoz parceiro, sentencia
dias de luta contra mim, entre a sombra e a penumbra.
Abandono simbólico das artimanhas.
Despido de um sorriso inquilino
sou eu nessa agridoce façanha
de sobreviver a cada passo até o fim do caminho.
Quando a verdade se agita pelo medo de ser
o instante pesa nessa trajetória minha.
Grito palavrões em silêncio para amortecer
essa ferida aberta que me definha.
*
Ciranda
Essa ciranda que meu corpo baila
horas é repleta de sonhos, outras esvaziada.
Se agarra no ópio dos versos e não cala
girando gotas de liberdade ainda idealizada.
Me abraça a noite nesses dias estranhos.
Tudo é desejo e silêncio
de tantos perdidos e roubados planos
dos quais escapo e me sentencio.
E é nesse instante que a mente voa.
Resgatando façanhas comuns de uma vida
nos instantes mais puros que tu me soas
na retina da memória, minha é a sorte sentida.
Gira, gira, grita, grita.
Grita meu peito acelerado.
É madrugada e o sonho acordado
é porção doce de minhas rimas infinitas.
Grita em voz emudecida
e gira, gira essa ciranda bendita
nas esquinas dos lugares de minha escrita
cotidianamente descuidada que me simplifica.
Ah, ciranda desse gira mudo,
o mesmo vasto mundo de Drummond rimou
eu que dolentemente fecho o olhar tão fundo
que não me sei do que sobrou.
E por fim encontro repouso de finitude
do dia, da ciranda dos enganadores.
Em mim, poesia me vem à miúde
no peito marcado e pulsando a sensação de um brotar de flores.
*
Palavras-sementes
Cultivo palavras nas bordas do sorriso
temperadas ao sabor dos instantes.
O silêncio canta aos meus ouvidos,
e passeia pelos pensamentos mais instigantes.
Flutuam por rios de lembranças
restos de embarcações dos sonhos perdidos,
movidos por gotas de esperança
saciando em sombras de suspiros esquecidos.
Cultivo palavras
no canto despercebido do olhar,
dos dias duros e da realidade incerta,
pego carona na simplicidade da vida,
que salva
que desperta
e multiplica saídas,
e onde a arte vem morar.
Mergulho …
horas livre,
em outras capturado,
reflexo das dúvidas que tive
do tempo no escuro onde fiquei acordado.
Rego, do verbo
ecoando de dentro
palavras-rosas,
palavras-granada,
palavras-convite
um gole de intento,
…invento, desperto,
e de certo, o laço das histórias
e uma estrada.
*
Cheias
Meu silêncio de ouvir, quer falar.
Meus olhos de sentir, querem olhar
a lua dos sorrisos,
o que tem ao mar.
O mar de um navegar sem portos
em que a vida tenta,
e meu silêncio de ouvir, tenta dizer
e meus olhos de sentir, sabem ver.
A lua é cheia,
e eu também.
A maré cheia,
e eu também.
Amar é cheia
e eu também.
*
Repara,
a vida,
há vida.
Vê?
O caminho,
esse que te dispara
para
a vida,
é lugar,
para além do olhar,
repara…
há vida.
*
Minha alma dança
Minha mente não para
é só o meu corpo que cansa.
Coração desperto na madrugada
tecendo no fino breu, suaves laços de
esperança.
Reflexos do luar na parede do silêncio
acompanhando o desenrolar das horas
e o pensamento rodeado de cores
o nascer de um sol antecipado, aqui dentro.
Versos a desenharem o tempo,
anseios e suave sorriso a escapar
nas curvas, noite a dentro
de mim e do sono a me ludibriar.
Minha mente não para,
é só o meu corpo quem cansa
enquanto sonho acordado, a noite sara
e em devaneios minha alma dança.
*
Entrecostados
Entrecostados versos
de palavras remanescentes
a ecoarem do silêncio, um canto
que me diz do caminho, meu e nem tanto
assim.
Entrecostados olhares no meu pensamento
que me pedem abrigo na noite de saudosas
fomes.
O calor do meu corpo não é febre,
é vazio, é ânsia de existência.
É tempo.
Entrecostados sentimentos,
à beira do fim de mais um dia
onde minha sombra, engolida pelas sobras que
as horas venceram,
tenta repouso.
Parado é o vento
a me soprar baixinho
palavras-convite de uma vida à espreita,
escapando pelas frestas,
beijando a face da poesia.