Sete poemas de George Ardilles
George Ardilles, baiano de Bom Jesus da Lapa-BA, passou parte da infância na cidade de Aracaju-SE e hoje mora em João Pessoa-PB. Nesta capital, ainda na adolescência, começa a ter contato com a literatura paraibana iniciando seus primeiros passos. É formado em Ciências Sociais pela UFPB e cursa licenciatura em Letras pelo IFPB. É autor de Poemas de Meio-fio, livro de estreia publicado em primeira edição no ano de 2009, com segunda edição em 2020. Em 2021 lançou seu novo livro de poemas Externo.
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COR DE ROSA
formosa
quando ao longe me provoca os olhos
me provoca a boca
quando na boca morde os lábios
suave
desliza sobre os meus desejos
cor de rosa
um tom mais claro que o pecado
*
INFÂNCIA ROUBADA
façam do meu corpo todo pedra
e joguem pelas ruas nas paredes
disfarcem os meus olhos que cintilam
a dor de não poder dormir na rede
comeram minha infância ali na ceia
gozando pelas noites no jantar
rasgaram minha fome feito a cola
que deram no sinal pra eu cheirar
pedinte no país das maravilhas
roubaram os meus sonhos do papel
escritos pelas ruas desta vida
sem mesmo ter provado o teu mel
filhos de uma puta enrustida
disseram-me da pátria que pariu
se fosse meu sorriso ali na cara
diriam que sou filho do Brasil
*
TODO DIA É DIA DE LUA
na lua meu beijo
míngua suspiro
respiro na boca
perfume do mar
negro de curvas
minha língua navega
espasmo arrepio
disfarce que entrega
desejo molhado
ao lado eu falo
escuro suado
apagou-se o nós
fizera um corpo
em meio a lençóis
arranca pedaço
que grita gostoso
ouvindo um gemido
sorrindo um gozo
*
NUM GOLE VAZIO II
às vezes sinto um oco
que me sufoca de tão vazio
bebo um gole
que não preenche
nem mar
nem rio
*
CATARSE
tem noites que tardo
mas amanheço
suavizo os dias
em tudo que trago
levo na alma
tudo que foi amargo
solto na fumaça
tudo que desconheço
*
(…)
a memória da minha infância
fique cravada no teu caixão
nem tudo que passamos na vida
foi em vão
*
(…)
tudo que eu queria era você
sem o exagero comum dos homens
queria tua boca por toda parte
mas sem o alarde comum dos homens
queria te mandar me contorcer toda
mas sem o mandar comum dos homens
queria que tu me apertasses
e cativasses o gozo por mim
e não o gozo inútil dos homens
queria que tu me fizesses mulher
que goza contorce se deita deleita
sem a necessidade de te fazer homem