Sete poemas de Henrique Duarte Neto
Henrique Duarte Neto é catarinense, residindo no interior desse estado. É poeta, ensaísta, crítico literário e funcionário público. É formado em Filosofia e Doutor em Literatura, ambos pela UFSC. Publicou alguns livros de crítica literária, sobre poetas como Augusto dos Anjos, José Paulo Paes, Claudio Willer, Ferreira Gullar, Roberto Piva, Ricardo Lima e Tarso de Melo. Sobre sua criação artística é fiel à vocação, só escreveu e publicou poesia, mesmo que as vezes sendo a poesia amalgamada à prosa. Dos seus sete livros de poemas, publicados até o presente momento, destacam-se Provocações 26 (Kotter, 2019), À espera do fantasma da liberdade (Primata, 2022) e Sucupira não é aqui? (Kotter, 2023), sendo que este último se encontra em pré-venda na referida editora (até a primeira quinzena de outubro) e de onde foram extraídos os poemas desta seleta.
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Exceções à regra
Nem todo esteta é poeta.
Nem todo poeta é profeta.
Nem todo profeta é pateta.
Nem todo pateta é esteta.
*
Limitação de escopo
Enquanto a vã filosofia sonha
e a pretensiosa ciência divaga,
a obscurantista religião ilude.
*
ARS I
À mercê do inefável.
À espera do inimaginável.
Ser volúvel buscando amparo.
Medeias, Medusas, Pandoras
da agonia e do desastre,
destino transformado em arte.
Glutonarias melômanas,
ressoa em seu peito
o dó do mais cavernoso lamento.
Formas formosas, formosuras,
toda a criação é elo
de consonante e dissonante veio.
Que vida enseja consumição?
Que arte traduza perfeição?
Seja o criador o operário-padrão!
Que não macule vida e arte,
e não esqueça que mais que glória,
sua luta é jogo e história.
*
ARS II
O tremendo delirium tremens.
A portentosa porta da esperança.
A verídica doença venérea.
A ferruginosa chave de ferrugem.
O vetusto anjo augusto.
O escarlate artefato de arte.
Tudo conflui para o poeta ser
grande e pequeno.
Mônada amplificada, guerrilheiro
do pacifismo.
Velho Zuza, decodificador
de totens ancestrais.
Na sua surrealidade imemorial,
abraça o novíssimo e o arcaico.
Espezinha o clown e a sua boiada,
sob o rufar de repiques e tamborins,
com a matilha dos cães do bom senso
a impulsioná-lo à vigília.
Borbulhante vate! Como é belo
o farfalhar do verbo em teus versos!
O brilho que reluz aqui
não é ilusório.
Mas do espírito que cria na arte
e na vida, se constroem significações.
*
Na sala de autópsia
Entre a análise minuciosa
de um cadáver e outro,
o médico-legista não
esquece de sua dieta:
Uma maçã
e quatro bolachas água e sal.
*
Humano colapso
Ele se sentou, chorou, bebeu…
As damas não aliviaram sua dor –
somente a bala na testa!
*
Fim do mundo
O apocalipse
e a apólice de seguro.
As trevas
e as folhas de trevo.
O juízo final
e o juiz de futebol.
Atile Alberto Muniz
Humano colapso.
Forte como uma faca deslizando no pescoço.