Sete poemas de Izabela Souza
Izabela Souza (Santo Estêvão/Bahia). Quem eu sou? Muitas coisas, inclusive metamorfose, vivo me descobrindo e redescobrindo, me construindo e me reconstruindo, me achando e me perdendo. Mas possuo uns âmagos, como: a necessidade de amar e ser amada, a fascinação pela literatura, músicas e noites estreladas. Sou uma estudante, da escola e da vida, com fascínio pelo novo. Sou uma leonina apaixonada. Encantada pelos animais, o misterioso e resplandecente universo. Me encontro sempre que escrevo, e escrevo sempre que estou precisando me libertar.
***
O tempo é o melhor inimigo da vida-
Eu sei que o tempo é consequência do minuto.
Mas mesmo assim eu tenho medo,
Medo do envelhecimento, do desgaste,
E o passar do aterrorizante tempo,
É divino como ele passa muito rápido e
Não me dá ouvidos quando peço que ele me espere,
Apenas debocha do meu tempo desperdiçado à toa,
Preocupando-me com o tempo.
*
Lábios mentirosos
Diga mentiras para mim, me deixe iludida,
Sedenta pelos teus lábios cafajestes.
Verdade cruel, chata.
Doce mentira, me deixe com graça.
Me faça rir,
Depois vem as lágrimas.
Me deixe com graça, fale o que quero ouvir,
Mentira verdadeira.
Me deixe com graça.
Me deixe mais viva,
E com graça.
*
Só te queria até onde me achava
Me recusei de você
Só te queria em parte
Me recusei de você
Não sabia me abrir
Não sabia te sentir
Perdi-me dos teus olhos
E não nos encontrei mais
Por medo de não ser óbvio
O óbvio que me sinto segura
Agora o meu sorriso é triste
Pedir-te e estou triste
Triste pela recusa, tão odiosa
Para mim e para ti
E você sorri e não é mais para mim
Está algo justo
Teus olhos eu não encontro mais
E o óbvio agora é vazio
E cadê a segurança?
*
Eu
Sou puro sentimentalismo.
E como sofro por isso.
Amo demais.
Me apego demais.
Não supero nada.
Nunca passa.
Mas não me deixo sentir.
Apenas sinto.
Sem consentimento.
Que ousadia.
Quero que meus dedos toquem raiva.
Quero que meus olhos transmitam carinho.
Quero tocar em tudo.
Quero fechar os olhos.
Não suporto sentir tanto.
Dói.
Não há cautela.
Apenas há libertação.
E eu me jogo.
Sou puramente sentimentos.
Quando me jogo, não há ninguém.
Os finais são audíveis.
Mas me faço de surda.
Mas o ruído do descompasso arranha.
Que bela negação me torno.
E não vem a aceitação.
Sou poeta mesmo e não aprendi a amar.
Isso que respira na minha poesia.
Só aprendi a sonhar.
Sonho tanto com aqueles que quero.
Mas acordo e estou sozinha.
Sou encarnação da mentira quando falo que estou melhor assim
Sozinha.
Quando na verdade
Tô precisando que me sintam.
Não sei amar nenhum pouco.
Apenas amo.
Por isso sou tão eloquente.
Intensa demais.
Que pecado.
Talvez eu deva sentir menos.
Mas me sinto tanto quanto sinto os outros.
E mesmo assim não prevejo.
Mas o óbvio mesmo é que vai doer.
Sempre dói.
E eu aqui, sentindo.
*
Paixão
A coisa mais linda e dolorosa é dar-te a permissão para destruir o meu coração.
Pura destruição, fogo.
Um xeque-mate, matando o meu coração.
Estraçalhando-o, rasgando-o, dilacerando-o.
Pura adrenalina nestes teus olhos, arriscados e viciante.
Um sorriso teu é golpe baixo.
Nem ouso me proteger de ti, você merece o direito de me destruir.
Pura destruição, fogo.
Sem nenhuma pureza.
Malícia.
E é assim que meu coração é docemente destruído.
*
Bruxa
Mulher livre
Liberdade feminina
Solto a bruxa que sou
Sou poeta e tô cantando Cássia Eller,
Me adorando ao som de Pitty,
Exalando poder.
Somos deusas, Rita Lee.
O suor na pele é a prova da dança que danço.
Liberdade.
Bruxa,bruxa, a palavra dança na minha mente.
Apenas uma mulher liberta.
Sou grande demais para estar presa.
Música alimenta o meu ser.
O volume está alto.
Preenchendo cada vibração da minha alma.
Inspirada ao escrever.
Liberdade.
Euforia.
Te entendo, Natasha.
Bebo a água gelada. Escorrendo pelo canto da boca.
Água é alivio.
Meu cabelo é arte.
Quem não entende que se foda.
Que não me entende que se ame mais.
Amor.
Olhos vermelhos me faz chegar ao clímax.
Alguns momentos atrás tocava Geração Coca Cola, sou aquela revolução passada.
E me lembro daquele poema que fiz outro dia.
Sou intensa, em todos os sentidos.
Intensidade, amém.
8/80.
Santa trindade, amo-lhes.
A sensação de se encontrar é transcendental.
No atual exato momento, tô me encontrando aqui, sozinha, escutando música boa, cantando música boa, dançando e escrevendo, me sinto preenchida.
Imagine-me.
Imagine-me bruxa.
Faroeste caboclo.
Não peço por nenhuma permanência, só a minha.
Não cobro ninguém.
Mas faço a minha parte.
Me afogo em tudo que vale, o final vale o início.
*
Caixinha de vidro
Sempre estive em uma caixinha de vidro.
Sendo inspecionada.
Sendo somente externada por palavras em lábios que falam demais.
Sendo elogiada.
E sendo um ser que foi-me servido, sem opções.
Por isso que hoje não sei ser, e fico à deriva, aprendendo a ser eu.
Mas sou metamorfose, então não sou, apenas estou sendo.
Sempre estive quieta, em uma performance de silêncio enquanto, em minha mente, rodopiava,rodopiava.
E como rodopiava! Mas não movia meu corpo.
Movia a alma!
Oh, não parava quieta! Até hoje não parei, e sinceramente, que não pare.
Porque de tantos rodopios, quando parar, ficarei tonta e cairei.
Na infância…
Fui uma porcelana bonita e delicada,
Nunca me quebrei,
Gostaria de ter me quebrado,
Para vivenciar a dor da vivacidade.
E poder me consertar.
Mas não me deram esse direito,
Me puseram em uma caixa de vidro e não saí.
Uma caixa de vidro,
Polida eternamente de expectativas,
Eu as cumpria excepcionalmente.
Polida em medo,
De tocar no vidro e descobrir que ele pode quebrar e Cortar a minha pele,
Cortar a minha pele
De minha pele iria sair sangue e cicatrizar.
De qualquer forma, eu não estaria mais na caixa de vidro.
Demorou tempo demais para eu sair da caixinha, que, cada vez, o espaço era menor.
Me impedindo de respirar.
Me sufocando.
Mas saí, a pele cortada está cicatrizando e estou aprendendo essa bela e complexa metamorfose que sou.
Porém, contudo, ainda acham que estou nela.
Ainda querem me manter nela.
E isso poderia me pôr novamente lá,
Mas isso é escolha minha.
Então, estou aqui fora, respirando.
Respirando livremente, selvagemente