Sete poemas de Jaíne Chianca
Jaíne Chianca, 26 anos, mas com a certeza de possuir uma alma que flutua entre os extremos dessa idade. Geminiana, historiadora em formação, seridoense de riso fácil, mas nem sempre manso. Apaixonada por pôr do sol, luas dentro d’um céu que viaja e mais. Livro publicado: “Segredos de Liquidificador”. Para mais informações sobre ele, há um IG no Instagram @segredosdeliquidificadorlivro.
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108 – Eu me vesti de saudade
apesar de ser a hora de trocar de pele.
Te olhei nos olhos e percebi que você já tinha ido
enquanto eu, permanecido.
Então o ultimo abraço foi sentido,
o último beijo digerido,
o último “te amo” engolido.
Trocar de pele não é tão simples assim, viu?
E deixa marcas.
*
110 – Escrevo em determinadas linhas para sangrar todo o absurdo que me consome.
Escrevo para sacralizar o gosto amargo e não permitir que ele viva em mim sem ser denunciado.
Escrevo para não ser engolida.
Escrevo para escrever.
Escrevo para preencher cada palavra com notas de rodapé que só eu sei o que significam.
Escrevo e escrevo.
A escrita me é, me devora e é devorada.
Por fim, escrevo pra transbordar os ditos e não ditos, tornando a escrita, meu bálsamo.
*
113 – Eu quero ter orgasmos com você.
Meu corpo vibra com o teu olhar,
pedindo teu toque,
sedenta.
Minha língua entrelaçada na tua é quase tão molhado quanto o nosso entrecoxas.
A mão desliza
subindo,
descendo,
pegando,
metendo.
É dedo na boca,
é dedo por trás,
é dedo lá dentro.
Me pega,
me devora,
me chupa,
brinca com a tua boca.
O gozo vem vindo
você sente?
O gosto agridoce surge,
a velocidade aumenta,
inclino meu quadril e ofegante
te falo sorrindo: goza comigo.
*
115 – E apesar dos desencontros tantos que nos cercam durante a vida,
nessas [contra]partidas que nos levam além,
apesar da dor de sentir muito e por muitos
temos momentos de transbordar bem fundo
com os encontros que na vida tem.
Afinal, agradeço pelos desencontros, pois há quem nos encontre também.
*
117 – Anote aí
o que escrevo é afeto.
Ele é tanto que transborda,
morde,
abraça
e beija quem o lê.
Menos que isso não aceito
não aceite.
Não ligo pra rimas,
nem pro compasso do desenho poético.
Se minhas palavras não lamberem seus lábios
deixando um gosto doce
não perca seu tempo,
nem o meu.
*
118 – Dizem que meu sorriso é fácil
é… eu gosto que seja assim.
Difícil é viver a vida sem sorrir,
sem olhar pras coisas,
pros cantos,
pras pessoas
e eles não despertarem sequer, um sorriso de canto.
Deste modo, eu me encanto com a beleza de sentir e de fazer poesia com o que tenho.
E para mostrar que não estou de brincadeira,
vou continuar com o:
Sorriso-bálsamo
Sorriso-amor
Sorriso-olho
Sorriso-catarse
Sor.ri.so.
*
120 – Hoje quando saía para o trabalho, vi seu João.
Na realidade não sei o nome dele, mas as pessoas gostam de colocar nomes bíblicos que ele deve se chamar João, José, Maria, Madalena.
Ele tinha um olhar cabisbaixo e eu fiquei me perguntando se realmente havia colocado o feijão de molho ontem à noite.
A gente tem uma mania de prestar atenção sem de fato estar prestando atenção, né?
“Bom dia, seu José”.