Sete poemas de Karolaine Carvalho
Karolaine Carvalho do Carmo nasceu na cidade de Ipirá, no interior da Bahia, no ano de 1999. Karolaine é graduanda do curso de Licenciatura em Letras pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Foi bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. Atualmente, é bolsista de iniciação científica na área da literatura comparada e se debruça sobre a literatura sertaneja. A pesquisadora, também, é poeta, embora não tenha livros publicados, compartilha suas obras literárias autorais na página @soouarte na plataforma Instagram desde o ano de 2019.
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AMOR REPRIMIDO
O choro não é nem tristeza, mãe
É só o vazamento
Deste âmago que transborda
E derrama meu corpo feito enchente
Na busca por conter meus excessos
A angústia comprime-se nas estruturas desta compleição
A vejo rachar e partir-se em minuciosos pedaços…
A boca silenciada
O sentimento contido
Reprimo meus absurdos
É possível morrer por tanto guardar
Essa poesia nobre de verbo amar?
Quanto dura um amor que não ecoa
Nos gemidos desta alma perdida?
Espero que pouco.
Nas paredes do corpo não há espaço para nós dois
Cabe ele ou dura eu.
In: https://www.instagram.com/p/CgGBC4fLUtj/?utm_source=ig_web_copy_link
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ESPERANÇA
Já não falo de amor
Nem bem deste sei escrever
Diria poeta inválida e chula
Bebendo numa taça quadrada
Angústias desnudas
A poesia agora está fria, dura e morta
Como descrever tamanho conforto?
Visto que nossos corações estão secos
E nossos olhos fundos e ocos
As raízes apodrecem
E não há nada bom a extrair do interior
Tudo que vejo é resultado de uma vida agreste
Mas, de tudo
E mesmo das palavras presas e peitos
petrificados
Fito as pupilas secas num poço com pouca água
É raso, é raro
Nem tão genuíno, nem tão encardido
Mas é um poço d’água no meio da secura
Dos olhos que não chovem
Do coração que não molha
Desse amor que nem se mostra.
In: https://www.instagram.com/p/CVeifBNstTC/?utm_source=ig_web_copy_link
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A POESIA É UMA MULHER
Procuro explorar as artes porque é disto que minha alma é feita
Sigo tentando enxergar a beleza que perfura a minha carne
E confesso, que embora muito humilde, vejo a minha existência como a forma pura de arte
Eu sinto as flores saírem das minhas cicatrizes enquanto renasço e minhas raízes crescem
Meu corpo, perante o espelho, diz que sou a própria poesia encarnada
Mas o que vejo, então?
Talvez pele, talvez essência, tanto faz
Agora que aprendi a amar-me de todas as formas
Agora que aprendi que não importa o quão grande eu seja, sempre há muito a aprender
E então, a solidão já não é castigo
Obrigada, Gil. Aprendi a ser só e só ser.
A poesia é uma mulher, e às vezes esta é poeta
As minhas marcas e detalhes únicos escrevem a minha história sobre a minha casca
As minhas rachaduras revelam escrituras a quem muito se interessa
E ao resto…ao resto é invisível
Revelaram-me algumas vezes que o meu olhar libera uma forte carga de energia
Que ao conectar-se, fixo a outros, descarregam eletricidade
Reconheço e agradeço por ser uma fonte inesgotável de amar
Pessoas, bichos e artes
E de criar
Motivos pelos quais a vida nunca há de se esgotar
A arte é alimento para a minha alma. E esta nunca há de morrer de fome.
In: https://www.instagram.com/p/CD1M208BylY/?utm_source=ig_web_copy_link
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EU, POETA
Insólitas reminiscências de um antigo eu
Sinto demasiada saudade do que nunca me ocorreu
E eu, tão pura, tão casta
Ou quem sabe, devassa
Procuro lembrar de quem fui eu
As estrelas fazem-se meu lar
Recorro aos céus para falar com Deus
Indagar de qual universo venho
Cobrar aquilo que me prometeu
À quê pertenço?
De quê faço parte?
Quantas vidas eu tivera antes de amar-te?
Eu sou um pedaço de carne que logo virará poeira
E dissipará como o fogo ardente daquela fogueira
Saudade de quando era pura…
Seria, ainda, um ponto banhado pelo brilho da lua
E a inocência lubrificava os meus olhos fúlgidos
E os sonhos…e que sonhos!
Foram soterrados em lama junto às minhas versões
Jurando não esquecer minhas emoções
Mesmo que já não sentidas…
Faço minhas orações.
E eu
Carne, poeira, som, maresia
Tento descobrir-me através da poesia.
In: https://www.instagram.com/p/ChD9SnTDQzx/?utm_source=ig_web_copy_link
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FACE DE DEUS
As estrelas que refletem no brilho dos meus olhos úmidos
Choram saudades do desconhecido pela minha consciência
De onde venho, meu querido Poeta?
Das aquarelas do arco-íris que reflete a vida
Da escuridão de um universo carente de estrelas?
A saudade é do que deixei para trás
Mas nesta vida ou noutra?
A saudade é do que não vivi
Para onde foram os sonhos esquecidos?
Em algum cemitério, jaz os restos dos sonhos mortos
Nos becos da minha memória falha
Nas crateras impreenchíveis da minha alma furada
Que se derrama e vaza…
Olha para o céu, sorri e chora
É de saudade de mim mesma?
Mas e quem era eu?
Se perdida encontro-me
Desde que anjos e demônios lançaram-me sobre a Terra
Será que os rios do meu corpo vazam de emoção
Por verem o rosto de Deus pintado sobre o céu?
Não sei do quê é a minha saudade
Não encontro certeza alguma no subconsciente
Nos vazios da minha alma perfurada
Nas lágrimas que banham minhas enchentes…
Não sei
Perguntarei aos céus novamente
Quando a face de Deus se fizer presente.
In: https://www.instagram.com/p/Cf1c4_nrFKD/?utm_source=ig_web_copy_link
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POEMAS DE AMOR
Saudades do dizer de amor
Ainda o sinto, mas este engasgou
As palavras abafadas e presas
Inexpressas no papel
Escondem-se das mãos do poeta
Mas reluzem nos olhos pelas frestas
Quem olha-me nos olhos?
Se vê amor, se vê dor, nada diz…
Palavras outras também presas
Não é doença minha
Registra a importância
Dita o sentimento contido
Sem constranger-se do sentir
Que é humano, natural e vivo
Apalpa, pega na palma das mãos
O sentimento vasto, cuida
Derrama mel dos lábios e beija docemente aquele
Se por amor, ainda vivo
Que meus brotos o console
A palavra, bendita poesia, carece de amor.
In: https://www.instagram.com/p/Co8ZayFrK5x/?utm_source=ig_web_copy_link
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DOR E ARTE
Por que a rejeição tem me tocado tantas vezes?
Pergunto-me a cada sopro que ecoa dos meus batimentos secos
O teu ódio tem arrepiado a minha pele
E tento enxergar por que, apesar de ser de lata
A minha carne ainda insiste em sangrar
E não era eu?
Que dizia não sentir tanto, por sentir demais…
O espaço vazio tomou-me por inteira
Devorou-me, levou-me embora
Agora sambam sobre meus restos destroçados
Quantas vezes já fui amada, Baco?
Minha boca não ousa dizer
Mas o sentimento de nunca ser o suficiente
Grita e implora para crescer
Admira-me tamanha sensibilidade
E pra quem jurou ser dura como concreto
Pensei ter a alma morta antes da carne
Mas sinto tua repulsa arrepiando minha arte.
In: https://www.instagram.com/p/CeZqRRfLXsq/?utm_source=ig_web_copy_link