Sete poemas de Mariana Madelinn
Mariana Madelinn é baiana com orgulho, bissexual, bacharel em Direito e desde 2009 publica poesias na internet. A partir de 2018 começou a publicar de maneira independente na Amazon, tendo participações em antologias nas editoras Corvus, Maria Bonita e Cultura.
sobre a campanha: “A-mar é um lembrete constante de que o sentir vem em ondas.”
Nessa 2ª edição, que conta com 21 poemas novos, o livro é totalmente produzido por mulheres negras e LGBTQIA+. A proposta é acompanhar uma crescente do sentir e do amor. Mergulhando junto a um corpo negro, fluído e oceânico.
link: https://www.catarse.me/amar2edicao
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Eu preciso ser poeta
Eu preciso ser poeta
Porque
A minha lágrima
Escorre
Incontrolável
Pelos dedos
E eu preciso
Subtrair o peso
Desse tanto
Guardado
Eu preciso
Deixar vazar
Tudo isso
Antes que eu rache
Por completa
Eu preciso
Gritar no papel
O que calam nas ruas
O que cochicham
Nas avenidas
O que vão
À todo custo
Esconder de você
Me deixa ser poeta
Eu sou poeta
Me deixa
Ser.
*
Rio Ouro
Eu sou uma
Cachoeira
Que precipita
Sem pedir
Licença
Minha correnteza
Chega fluída
Sabe a direção
É dona de si
Banhada pelo
Sol
Sou luz
Dourada
Beleza rara
D’oxum
Invado lares
Transbordo amor
A refração
Me faz cor
Eu sou
Uma chuva
De possibilidades.
*
Feliz a conta gotas
A Terra
Em suas veias
Rugosas
Relembra
Que a vida
Urge
Há tantos
Corpos caídos
Tantas balas
Encontradas
Às crianças
São negados
Os doces
Apenas a
Precocidão
Faz sala
O choro
Toma conta
Da casa
Mas a vida, meu bem
Ela ignora
Ela segue em frente
E quando
Tudo lhe faltar
Relembre:
Que é preciso
Lutar
Insistir
Pra deixar
De ser triste.
*
Lusco-fusco
Tenho palpitado muito
Ainda guardo
Sentimentos antigos
E as batidas
Batucam
Desenfreadas
Meu peito
Quer descolar
De mim
Desaguar em você
Meus olhos
Riacho
Desmancham
Enquanto
O peito
Vai indo
Partindo
Decolando
Ruindo
Desejando
Encontro.
*
Insone
Sono nascido
De dias corridos
Me dá uma pausa
Fecha meus olhos
A mente acesa
Não permite
Repouso
Um poema nasce
Por trás da pálpebra
Insiste no despertar
Mas eu resisto
Teimosa que sou
O verso desce
Se instala na garganta
Me conta da mudez
Das horas
Do que me tomam
E não me cabe
Do que rouba meu verbo
E castiga a minha carne
Das estruturas e jaulas
Que eu já nem entro
Nem quero
Nem tento.
*
Tal mãe, outra filha
Nas fotos
Vejo quanto
Pareço
Com minha mãe
Sobre as manias
E o alinhar
Das carnes
À revelia
Dos anos
Quando reparo
Na unidade
Pego
Esse mundo
Novo
Esse desejo
Louco
Demasiadamente
Maturado
De fazer
Tudo diferente.
*
E se…?
Estou aqui
Atada à essa
Montanha russa
Mergulhando
A cada curva
Arriscando muito
Ponderando
Deslizes
Evitando escorregar
Direto
Pros meus erros
Há essa vigília
Essas feridas
Esse silêncio
Um bom punhado
De fé
Uma esperança
Bandida
E tanto
Tanto
Que eu nem sei.